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Hora do cafezinho: uma pessoa pode realmente ficar viciada em café?

O café tem propriedades energéticas indiscutíveis, mas o vício é psicológico - PeopleImages/iStock
O café tem propriedades energéticas indiscutíveis, mas o vício é psicológico Imagem: PeopleImages/iStock

Cintia Baio

Colaboração para o VivaBem

05/12/2022 04h00

Quase ninguém dispensa um cafezinho. Disseminado por todo o mundo, o hábito é antigo.

Uma lenda milenar sobre sua origem diz que um pastor na Etiópia notou os efeitos daqueles frutinhos avermelhados sobre as cabras que os mastigavam. Um monge soube da história, fez uma infusão com o fruto e percebeu que a bebida o deixava acordado por mais tempo. Dos monastérios, a fama energética do café se espalhou pelo mundo.

Além das lendas, o fato é que, em todo o mundo, é comum uma xícara de café para "começar bem o dia" ou finalizar um almoço. Os brasileiros amam café: em média, tomamos quatro xícaras por dia.

Café vicia?

Não são poucas as pessoas que se orgulham de seu "vício" em café. Mas será que é realmente possível ficar dependente dessa bebida?

De tão popular, o café é objeto de muitos estudos científicos, e os especialistas garantem: café não vicia.

O nosso "vício" em café é mais psicológico do que biológico —em outras palavras, o hábito é determinante. Por isso, quando tomamos café religiosamente pela manhã, por exemplo, mas deixamos de consumir a bebida um dia, temos uma sensação de abstinência.

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O brasileiro bebe em média quatro xícaras de café por dia
Imagem: Unsplash

Nesse caso, o café poderia ser substituído por qualquer outro alimento e causaria o mesmo efeito.

Efeito da cafeína

Uma dos benefícios do café é a dose extra de energia que ele proporciona, graças à ação da cafeína, um composto que age em nosso sistema nervoso central. Mesmo pequenas doses já causam efeito em nosso comportamento.

Além do café, a cafeína está presente em outras bebidas, como chá preto, refrigerantes e chocolates. No café, ela representa apenas de 1% a 2,5% dos componentes —7 a 10% são ácidos clorogênicos, responsáveis por grande parte da atividade antioxidante da bebida, com potencial atividade antibacteriana, antiviral e anti-hipertensiva. Há ainda a niacina, que é uma vitamina do complexo B formada pela degradação de um composto naturalmente presente no grão.

Seu consumo frequente pode aumentar a vivacidade, a performance motora e mental, devido a sua rápida absorção pelo organismo. Mas também causar dependência psicológica moderada.

Mesmo que esses efeitos pareçam com os de outras drogas, estudos de mapeamento cerebral mostraram que a cafeína não está ligada ao circuito de dependência do cérebro, ou seja, não preenche os critérios para ser descrita como uma droga viciante.

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Plantação de café em São Sebastião do Paraíso
Imagem: AMANDA PEROBELLI

Além disso, os efeitos não são iguais em todas as pessoas. Há quem não consiga dormir após uma xícara de café, enquanto alguns usam a bebida como um chazinho à noite e dormem tranquilamente.

Para causar dependência, seria preciso consumir a cafeína em doses muito acima do que normalmente somos capazes de tomar por dia. Segundo os especialistas, o consumo diário recomendado deve ficar entre 400 ml e 500 ml, ou quatro xícaras de 150 ml.

Estudos recentes sugerem que o consumo diário de até seis xícaras de café pode prevenir o surgimento de diabetes tipo 2, devido à ação dos ácidos clorogênicos e à presença de magnésio e outros nutrientes, que reduzem a absorção de glicose.

Fontes: Miguel Antonio Moretti, médico e pesquisador do Incor (Instituto do Coração); Rosana Perim Costa, gerente de nutrição do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo; ABIC (Associação Brasileira da Indústria de Café).