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É possível pegar gordura da lipoaspiração e fazer sabão?

Bia Souza e Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

13/01/2016 20h19

Uma jovem chinesa publicou em uma rede social que para se vingar do ex-namorado preparou barras de sabão com a própria gordura e enviou a ele de presente de Ano-Novo. A mulher afirmou ter usado a gordura descartada da lipoaspiração a qual se submeteu depois de ser abandonada por estar acima do peso.

Polêmicas conjugais à parte, o sabão é obtido pela mistura de gordura, geralmente, bovina que reage com soda cáustica, ou hidróxido de sódio. Mas seria possível fazer sabão com gordura humana? Segundo o professor e autor de livros didáticos de química Emiliano Chemello, sim. "Comparativamente, a gordura bovina, utilizada como matéria-prima para produção do sabão artesanal contém uma porcentagem de ácido oleico, um tipo de ácido graxo presente em vários tipos de gordura, muito próxima à da gordura humana. Em tese seria possível produzir não apenas sabão, mas biodiesel com esses resíduos."

sabão - CEN/Reprodução Rede TV - CEN/Reprodução Rede TV
Ela queria se vingar do ex-namorado que terminou o relacionamento alegando que a menina estava acima do peso
Imagem: CEN/Reprodução Rede TV

O professor também explica que seria seguro usar o produto pois toda essa gordura transforma-se em outras substâncias (sabão e a glicerina) que são quimicamente semelhantes àquelas presentes em sabões produzidos a partir de outras fontes de gordura. "Provavelmente qualquer microrganismo morreria com o pH altamente básico (devido ao uso de soda cáustica) e à fervura. Assim, teríamos um produto muito parecido com o sabão tradicional", diz Chemello.

Se quimicamente o sabão é possível, na prática ele não seria tão viável. Segundo o cirurgião plástico e membro titular da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica Rodrigo Rosique, o contato de um material orgânico com outro poderia causar alergias. 

Além disso, ele afirma que o caso da jovem chinesa nunca aconteceria no Brasil. “Na China, a vigilância sanitária é menos rigorosa. Aqui, as regras são claras: o hospital tem a responsabilidade de descartar todo material orgânico proveniente de processos cirúrgicos, o que inclui a gordura (resultante de procedimentos estéticos)”, afirma. 

De acordo com a norma 307 da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), resíduos de tecido adiposo proveniente de lipoaspiração, lipoescultura ou outro procedimento de cirurgia plástica podem ser dispostos, sem tratamento prévio, em local devidamente licenciado para descarte. É de responsabilidade dos estabelecimentos realizar o descarte correto.

O descarte é feito de maneira separada. “O lixo de materiais recicláveis é separado dos objetos perfuro-cortantes. No caso do lixo orgânico, quem faz o descarte é uma empresa específica, contratada pelo hospital”, acrescenta Rosique.

O lixo orgânico (o que inclui a gordura da lipoaspiração) só não é descartado se for necessária a análise do material. “Há exames que usam esse material para descobrir a presença de bactérias no organismos, infecções e até câncer. Claro, que isso é solicitado se há suspeita do médico. Mas, esse material nunca é entregue ao paciente”, afirma.