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Todo réptil tem sangue frio? Não quando está na hora de acasalar

No período do acasalamento, a temperatura do corpo dos animais permanece elevada, vários graus acima da temperatura da toca  - Divulgação
No período do acasalamento, a temperatura do corpo dos animais permanece elevada, vários graus acima da temperatura da toca Imagem: Divulgação

Do UOL, em São Paulo

28/01/2016 06h00

Crescemos ouvindo que uma das características mais marcantes dos répteis é ter o “sangue frio”, ou seja, a temperatura do corpo deles varia de acordo com a temperatura do ambiente. No entanto, um estudo desenvolvido por biólogos brasileiros e canadenses no Instituto de Biociências da Unesp (Universidade Estadual Paulista), em Rio Claro (SP), mostrou que o maior lagarto da América do Sul, o teiú - que pode atingir até dois metros de comprimento, foge a essa regra. A pesquisa foi publicada no Science Advances no dia 22 de janeiro.

As investigações foram feitas, inicialmente, com quatro teiús-gigante – também conhecido como lagartos teiú -, sendo eles dois machos e duas fêmeas. Os animais foram mantidos em cativeiro e tiveram a temperatura corpórea e frequência cardíaca acompanhadas durante um ano.

Durante quatro meses, eles ficam em um período de dormência, entocados e sem comer, que vai de abril até setembro. Depois disso, eles saem desse estado para entrar no seu ciclo reprodutivo. 

Na fase da dormência, os teiús mantiveram o metabolismo com temperatura abaixo dos 17°C. Já na fase reprodutiva, a temperatura interna começou a variar ao longo do dia, mais ainda quando eles eram expostos ao sol – ela chegava até 37°C. No fim da tarde, a temperatura baixava um pouco, mas continuava bastante elevada em relação à fase da toca, que é o que acontece com as outras espécies de répteis.

Os pesquisadores foram atrás do que seria essa fonte “estranha” de calor e realizaram um novo experimento. Dez animais foram confinados numa câmara climática com temperatura constante e foram monitorados. Naquelas condições, e na ausência da exposição aos raios solares, os teiús ainda foram capazes de manter a temperatura corpórea acima da temperatura ambiente.

Isso convenceu os pesquisadores de que, mesmo faltando uma fonte externa de calor, os teiús conseguiam manter a temperatura corporal elevada, usando seu gasto energético. Essa “estratégia” é a mesma usada pelos mamíferos e aves para regular a temperatura corpórea. Mas, a fonte de calor ainda continua um mistério para os pesquisadores.

“O teiú usa o metabolismo para regular a temperatura interna durante a época da reprodução. No resto do ano, ele se comporta como um animal ectotérmico. Eu diria que os teiús estão a meio caminho entre a ectotermia e a endotermia”, afirma o biólogo Denis Andrade, que participou da pesquisa.

A descoberta da capacidade de regulação térmica nos teiús fornece uma pista importante para o entendimento de como pode ter evoluído a temperatura corporal nos ancestrais dos mamíferos e das aves (e dinossauros).

(Com Agência Fapesp)