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Perna bamba, coração na boca: é realmente possível 'morrer de susto'?

Sustos: uma série de reações que o organismo toma para nos defendermos do perigo - iStock
Sustos: uma série de reações que o organismo toma para nos defendermos do perigo Imagem: iStock

De VivaBem, em São Paulo

31/12/2022 04h00

Na canção tropicalista "Soy Loco por Ti, América", Gilberto Gil e Capinam previram: "Sei que adiante um dia vou morrer / De susto, de bala, ou vício". "Bala" e "vício" são mais palpáveis, mas é possível, de verdade, morrer de susto?

Quando levamos um susto daqueles, as reações costumam ser intensas: coração disparado, palidez, gritos de pavor.

Nosso organismo fica num estado que, em muitos casos, pensamos mesmo que teremos "um troço". E, de acordo com os especialistas, podemos mesmo.

As chances de "morrer de susto" são maiores em pessoas que, mesmo sem saber, têm um sistema cardíaco já comprometido. O susto, nesse caso, funcionaria como gatilho.

Mas o que é um susto? E para que serve?

Os animais têm um mecanismo de proteção natural chamado de "resposta de luta ou fuga". Quando é confrontado e colocado em uma situação de risco de vida, o sistema nervoso responde ao ataque aumentando a frequência cardíaca, o fluxo sanguíneo e dilatando as pupilas, entre outras "providências".

Os seres humanos têm exatamente essas reações diante do perigo, uma preparação do nosso corpo para encarar uma fuga —ou luta.

Esse sentido de alerta foi vital para a sobrevivência dos seres humanos primitivos na natureza selvagem. No mundo moderno, essa resposta de luta ou fuga não é mais tão necessária, mas segue ativa em nosso sistema nervoso.

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Ao reagir a um susto, nosso cérebro libera uma descarga de adrenalina
Imagem: iStock
  • Ao reagir a um susto, nosso cérebro libera uma descarga de adrenalina na corrente sanguínea.
  • Esse hormônio, produzido nas glândulas suprarrenais, tem a função de preparar o corpo para o perigo.
  • Essa descarga provoca a elevação da pressão arterial, o aumento do fluxo de sangue nos músculos e a aceleração dos batimentos cardíacos (o que explica a expressão "meu coração quase saiu pela boca").
  • A adrenalina também estimula a contração dos vasos sanguíneos, o que melhora a irrigação do sangue para órgãos vitais, como o cérebro e o coração. É aí que pode estar o perigo.
  • Se alguma artéria responsável por levar sangue ao coração (coronária) estiver semiobstruída, o aumento do fluxo pode levar a uma arritmia, um infarto ou até mesmo à morte.
  • Mas o susto não é o único gatilho a provocar acidentes cardiovasculares. Qualquer forte emoção, seja positiva ou negativa, também pode causar a morte.

Perna bamba, palidez, olhos arregalados

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Gritar, arregalar os olhos e tremer são reações a um susto
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As sensações que temos durante e após um susto fazem parte deste mecanismo de defesa do nosso organismo, ativado a partir da descarga de adrenalina.

  • O sangue deixa de circular com intensidade nas extremidades da pele e passa a ser direcionado para os órgãos essenciais do organismo, como cérebro e coração, o que provoca palidez.
  • O excesso de adrenalina faz com que os músculos, principalmente os das pernas, contraiam-se para ajudar a consumir o excesso desse hormônio. Isso explica as pernas bambas.
  • Olhos arregalados também são provocados pela adrenalina: é ela que causa a dilatação das pupilas. O objetivo é aumentar a quantidade de luz absorvida pelos olhos, para enxergarmos melhor numa situação de risco. Já o grito parece ser uma herança biológica: nossos antepassados gritavam para afastar os inimigos.

Fontes: César Jardim, cardiologista do HCor e Leandro Teles, neurologista.