Topo

Piracicaba (SP) libera Aedes aegypti coloridos em teste e assusta moradores

Aedes aegypti coloridos foram soltos em Piracicaba - Angela Cristina Toledo/Arquivo Pessoal
Aedes aegypti coloridos foram soltos em Piracicaba Imagem: Angela Cristina Toledo/Arquivo Pessoal

Eduardo Schiavoni

Do UOL, em Ribeirão Preto (SP)

31/03/2016 20h24

Mosquitos Aedes aegypti geneticamente modificados nas cores azul, laranja, rosa e amarelo começaram a ser soltos nesta semana, em Piracicaba (SP). A medida, que não foi comunicada com antecedência, assustou moradores da cidade. A prefeitura, entretanto, ressaltou que as cores foram utilizadas para determinar o tempo de sobrevida do mosquito, que não pica pessoas e nem transmite doenças.

Conhecido como 'Aedes do Bem', o experimento é feito na cidade desde abril de 2015 e tem o objetivo de tornar os mosquitos, utilizados para combater a disseminação da dengue, zika e chikungunya, mais resistentes.

Moradores do bairro Cecap, onde são liberados os mosquitos transgênicos, foram os primeiros a se depararem com as espécies coloridas. "Estávamos sentadas conversando, minha filha e eu, quando um dos mosquitos sentou no braço dela e ela matou. Quando ela olhou para ver se era da dengue, percebeu que ele era rosa e ficamos intrigadas. Começamos a observar os demais e vimos que eles também eram coloridos",conta Angela Cristina Toledo, moradora no bairro.

Ela fotografou os mosquitos e publicou nas redes sociais. Em pouco tempo, dezenas de moradores fizeram o mesmo, alguns deles expressando preocupação sobre o assunto. "Exatamente por esse motivo tirei as fotos. Fiquei apavorada, sem saber do que se tratava", disse.

A prefeitura da cidade e a empresa Oxitec, responsável pela produção dos mosquitos, divulgaram uma nota explicando os motivos das diferentes colorações. Segundo a prefeitura, os mosquitos não trazem nenhum risco.

"É importante relembrar que os mosquitos coloridos são os mesmos machos do Aedes do Bem que vem sendo liberados desde 30 de abril de 2015, ou seja, não picam e são totalmente seguros", afirma a nota.

O biólogo Carlos Fernando Salgueirosa de Andrade, professor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e especialista em controle de insetos, explica que a medida é altamente necessária. "Trata-se de uma marcação muito utilizada em pesquisas. Não traz qualquer problema para a população e é essencial para se determinar a eficiência desse tipo de iniciativa", disse.

Os mosquitos, marcados com pó colorido, são liberados e depois recapturados para contagem. Com cores diferentes, é possível fazer uma estimativa da população marcada em relação à que não tem marcação e estimativa de tempo de vida. 

Flá-flu

Depois de tranquilizados, moradores que visualizaram os Aedes coloridos publicaram fotos dos mosquitos no Facebook. A coloração deles se tornou uma brincadeira, sendo que foram feitas associações entre as cores dos mosquitos, times de futebol e até partidos políticos.

"Tem o mosquito Cruzeiro, azul. O mosquito Holanda, laranjado. O amarelo é da Seleção e o rosa do São Paulo", brincou o internauta José Cardoso Siqueira.

Já a Alex Paschoal preferiu fazer um comentário sobre a crise política. "Soltaram mosquitos amarelos para protestar contra a Dilma", disse. Rodrigo Leite, por sua vez, preferiu não discutir nenhum dos temas. "Acho que eles estão atrasados para o Carnaval", brincou.

800 mil por semana

Os mosquitos soltos no bairro Cecap são machos, que não picam, e carregam uma mutação genética que faz com que a descendência dele morra antes de atingir a fase adulta. Dessa forma, ocorre uma diminuição da população do Aedes Aegytpi capaz de transmitir a doença.

Segundo dados divulgado pela prefeitura e pela empresa, a liberação de mosquitos transgênicos reduziu em mais de 80% a quantidade de larvas de Aedes aegypti no Cecap. Semanalmente, são liberados 800 mil mosquitos na região.