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Manta promete blindar civis de estilhaço de bomba; será que funciona mesmo?

Marina Darmaros

Colaboração para o UOL

17/10/2016 06h00

A "manta blindada" foi uma das novidades mais comentadas da exibição de equipamentos bélicos "Army-2016", realizada no início de setembro próximo à capital russa. Criada pelo principal instituto de pesquisas e inovação militar da Rússia, o NII Stáli, ela despertou curiosidade, porque promete "proteção a civis pacíficos em zonas de conflito", como a Síria.

"A produção é voltada não para a defesa de um contingente combatente, mas da população civil comum que se encontra em zonas de conflito. Hoje, não existe uma produção com esses objetivos no mercado", disse o porta-voz da fábrica, Iliá Nôvikov, ao UOL.

Segundo ele, a manta é composta por algumas camadas de tecido balístico alojadas em uma capa e foi pensada para ser de fácil transporte e rápida desmontagem.

O nível de defesa é tanto, que permite proteger uma pessoa de 80 a 85% dos estilhaços lançados na explosão de uma granada, mina ou munição

O material atualmente passa por testes no Centro Russo de Testes de Equipamentos de Defesa Individual. Pelo procedimento padrão, ela é atingida por simulações de estilhaços --bolinhas de 6,3 mm de diâmetro e massa de um grama, a uma velocidade de 550 a 600 metros por segundo, ou seja, os parâmetros máximos a que os estilhaços chegariam em um local de bombardeamento.

manta - Divulgação - Divulgação
Imagem: Divulgação
Há dois anos, após os tiroteios de 2012 na escola de Sandy Hook e o tornado de Moore, no Oklahoma, uma companhia norte-americana chamada Bodyguard lançou produto similar voltado a crianças. Mas, como previram os analistas, as mantas foram pouco usadas para os fins a que se propunham, porque custavam cerca de US$ 1.000 a unidade.

Nesse sentido, a manta russa também gerou ceticismo. Para o analista militar russo Dmítri Litóvkin, o equipamento não é tudo o que promete:

Um refugiado nunca arrastaria consigo um cobertor de oito quilos que pudesse salvá-lo de estilhaços quando é precisa salvar a família e os filhos. Para civis, é inútil

Segundo o especialista, "o homem blindado não é livre". "Quando a NII Stáli diz que criou uma fibra 'leve', 'blindada', capaz de impedir a passagem de estilhaços e salvaguardar a vida do militar, deve-se ler que, com base nela, farão coletes a prova de balas ou equipamentos cotidianos. Nada além disso", afirmou.

Preço é um problema

A NII Stáli não fala em cifras, mas seu porta-voz acredita que o preço deve cair com o tempo. A empresa aposta em grandes encomendas, sobretudo de órgãos como o Ministério para Situações de Emergência do país.

"O valor da manta blindada, no momento, é consideravelmente alto, já que ela utiliza apenas tecidos balísticos de alta qualidade, que, em relação aos comuns, é mais caro. Além disso, a quantidade de tecido usada em uma manta é considerável. Apesar disso, a tendência é que seu preço caia à medida que comece sua produção em série com grandes encomendas", diz Nôvikov.

A "pedra fundamental" da manta blindada é realmente a mesma dos coletes balísticos, que hoje são compostos por 25 a 30 camadas de tecidos a prova de balas, como o Kevlar, principal nome nesse mercado na atualidade.

Logo após a DuPont ter criado o produto em 1965, a União Soviética inventou seu próprio análogo, o tecido CVM (da sigla em russo, 'especial de alta elasticidade').

As criações de aramida soviéticas seguindo os moldes da Kevlar complementaram os materiais balísticos baseados na alta elasticidade dos polietilenos, por vezes superando o norte-americano. E é justamente essa faceta que os russos estariam querendo exibir com a manta.

"Sua criação é, na verdade, uma demonstração da capacidade tecnológica para a indústria dos coletes balísticos. O tecido usado é de know-how absolutamente russo", diz Litóvkin. "Na Rússia, dizemos que 'a necessidade é a mãe da inovação'. Essa invenção entra na categoria das super-armas criadas com um copeque", completa.

A fábrica também revelou ao UOL que, com base na mesma tecnologia, criou uma capa blindada para capacetes. E reiterou suas preocupações com civis:

"A solução pode proteger funcionários não apenas em zona de guerra, mas na construção e em trabalhos que possam resultar no lançamento acidental de estilhaços. O peso desses capacetes, já montados, não ultrapassa 1,2 quilo, e eles provêm proteção contra estilhaços a uma velocidade de 550 metros por segundo e tiros de pistola", diz o porta-voz da NII Stáli.