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Falar que Papai Noel existe faz mal para crianças, dizem pesquisadores

Stefan Wermuth/Reuters
Imagem: Stefan Wermuth/Reuters

Do UOL, em São Paulo

30/11/2016 06h00

Você se comportou bem ao longo do ano? Então o Papai Noel trará um presente na noite de Natal. Quem não mente assim para as crianças nessa época do ano? Magia de Natal ou mentira, especialistas afirmam que falar que Papai Noel existe pode ser prejudicial para as crianças

De acordo com pesquisadores da Inglaterra e da Austrália, há uma contradição entre o discurso dos pais ao longo do ano, que tanto ensinam sobre a importância de se dizer a verdade, e o comportamento adotado no Natal, ao falarem para os filhos sobre algo que sabem que não existe. E o presente da magia pode custar, no futuro, a perda de sua credibilidade frente aos filhos.

"Se eles são capazes de mentir sobre algo tão especial e mágico, eles podem continuar sendo considerados pelos filhos como guardiães da sabedoria e da verdade?", escrevem o psicólogo Christopher Boyle e a especialista em saúde mental Kathy McKay em artigo da revista Lancet.

Para os especialistas, a confiança das crianças em seus pais pode ser minada pela mentira sobre o Papai Noel. "As crianças acabarão descobrindo que os pais têm mentido consistentemente durante anos, e isso pode fazer com que se perguntem quais outras mentiras lhes foram ditas", afirmam.

Outro problema estaria na ideia de que o bom velhinho, sentado na cadeira de balanço ao lado da lareira de sua casa no polo Norte, estaria julgando todas as crianças da Terra, classificando-as como obedientes ou travessas. Por que os pais precisariam de história tão absurda para educar os filhos?

"A moralidade de fazer crianças acreditarem em tais mitos tem que ser questionada", diz Boyle, que é professor da Universidade de Exeter, na Inglaterra.

Se os pais acham certo fazer as crianças acreditarem no Papai Noel, seria interessante também se perguntarem se mentir dessa forma não as afetará de maneiras que não foram consideradas"

Papai noel - AFP - AFP
Imagem: AFP

Vontade de voltar à infância

Questionar a existência do Papai Noel não significa acabar com a fantasia na vida das crianças. Para os pesquisadores, fantasiar a realidade é algo válido, como ao se falar sobre a morte de um animal de estimação, por exemplo. Mas os adultos relutariam em se desfazer das histórias do bom velhinho porque são eles, adultos, que revivem fantasias infantis nas festas natalinas.

"A persistência de temas mágicos em histórias como as de Harry Potter, Star Wars e Doctor Who, presentes na idade adulta, demonstra que esse desejo de voltar à infância existe", diz McKay, professora da Universidade da Nova Inglaterra, na Austrália.

Para a pesquisadora, muitas pessoas querem reviver um tempo em que a imaginação era aceita e encorajada, o que costumo não ser o caso da vida adulta.

"A dureza da vida real requer a criação de algo melhor, algo em que acreditar", diz ela. "Queremos sonhar sobre o futuro ou retornar a uma infância há muito tempo perdida?".