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Sapos têm detectores sísmicos e conseguem saber quando está chovendo

Sapos-corredores passam o verão todo sob a terra, à espera das chuvas - Rafael Márquez/MNCN-CSIC
Sapos-corredores passam o verão todo sob a terra, à espera das chuvas Imagem: Rafael Márquez/MNCN-CSIC

Do UOL, em São Paulo

27/01/2017 12h00

Sapos são animais que dependem da umidade para sobreviver. E aquelas espécies que habitam regiões muito secas precisam "dar seus pulos" para conseguir sobreviver no verão. A estratégia encontrada é esconder-se sob o solo, suficientemente úmido, à espera da chegada das chuvas de outono.

A incógnita para os cientistas era saber como os anfíbios faziam para descobrir, enterrados, o momento exato de sair das profundezas para voltar à vida na superfície para iniciar um novo ciclo de reprodução.

Um estudo publicado na revista Current Biology, liderado pelo pesquisador Rafael Márquez, do MNCN (Museu Nacional de Ciências Naturais), de Madri, na Espanha, mostrou que existem detectores sísmicos no ouvido interno de sapos e rãs que servem justamente para eles detectarem, por meio de frequências de som captadas nas vibrações do ar, o momento de ir para a superfície.

"Ao abordar este estudo, nos perguntamos como os sapos sabem que está chovendo se o solo subterrâneo onde eles estão escondidos já está úmido", disse Márquez, em comunicado divulgado pelo MNCN. "Aventávamos a hipótese de que eles são capazes de detectar as vibrações de baixa frequência e elaboramos um experimento para prova-lo", completa.

A pesquisa, desenvolvida com duas diferentes espécies de sapos --sapo-de-unha-negra (Pelobates cultripes) e sapo-corredor (Bufo calamita)-- foi realizada em dunas do Parque Natural de Doñana, em Huelva, na Espanha de fato apontou que os animais possuem três diferentes sensores no ouvido interno. Um deles percebe as frequências de som, ao passo que os outros dois captam frequências mais baixas, como as vibrações do solo.

Para chegar a esta conclusão, os cientistas foram ao parque na época das chuvas para gravar o som com o intuito de, posteriormente, reproduzir estas vibrações captadas de forma artificial.

Um ano depois, em 2013, no outono –quando os anfíbios ficam enterrados durante o dia, mas saem à superfície pela noite--, os pesquisadores voltaram ao local, instalaram cercas e colocaram ali 64 sapos, de maneira que pudessem monitorá-los naquele espaço.

Dois grupos distintos de sapos, então, foram divididos pelas cercas. Um deles foi exposto às vibrações artificiais, geradas a dez centímetros de profundidade, por 2 horas, em uma noite sem chuva. No outro grupo foram mantidas as condições naturais. O resultado foi que todos os sapos, em algum momento, saíram à terra.

O pesquisador ainda afirma que a dimensão sísmica do campo sensorial destes anfíbios pode ter “consequências importantes para medir o impacto que as atividades humanas podem ter neste grupo de vertebrados tão ameaçados”.