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Clique Ciência: Existem animais viciados em sexo?

Dado Ruvic/Reuters
Imagem: Dado Ruvic/Reuters

Cintia Baio

Colaboração para o UOL

14/03/2017 04h00

No reino animal, o que não falta são bichos com muita (mas muita) disposição para o sexo. Os leões, por exemplo, chegam a copular mais de cem vezes em um único dia durante o período de cio das fêmeas.

Já o pequeno antequino-marrom, um marsupial da Austrália, pode morrer por esgotamento físico depois de passar mais de 12 horas copulando.

Com tanto apetite sexual, podemos dizer que esses animais são viciados em sexo? Embora pareçam, a resposta é não. Toda essa voracidade está intimamente ligada a estratégias de reprodução e, até de sobrevivência, de cada espécie.

Para Carlos Alberts, professor de zoologia e comportamento animal da Unesp (Universidade Estadual Paulista) de Assis, nenhum animal pode ser considerado viciado em sexo porque tudo o que eles fazem é o que sua natureza indica.

“Depende da maneira como classificamos o que é vício. Para o sexo, existe o ponto de vista cultural. Qual é a quantidade de vezes que é preciso fazer sexo em um determinado período de tempo para caracterizar como vício? A resposta, talvez, mude conforme o período histórico”, diz.

O antequino-marrom se reproduz por mais de 12 horas seguidas com um grande número de fêmeas - Alan Couch/Creative Commons - Alan Couch/Creative Commons
O antequino-marrom se reproduz por mais de 12 horas seguidas com um grande número de fêmeas
Imagem: Alan Couch/Creative Commons

No caso do antequino-marrom, as longas (e fatais) horas de sexo refletem uma preocupação biológica do animal em assegurar a qualidade do seu esperma durante o curto período de fertilidade das fêmeas, que acontece uma vez por ano. Os machos gastam toda a sua energia —chegando a esgotar seus músculos e tecidos— para serem reprodutores competitivos. Em outras palavras, é a seleção sexual.

Outro caso curioso acontece com os gatos. Durante o período de reprodução, a fêmea chega a fazer sexo com praticamente todos os gatos da região onde ela se encontra. Promiscuidade? Vício? Não. A tática funciona para que todos os machos que copularam com ela se comportem como “pais” dos filhotes, ajudando-a a manter os gatinhos a salvo.

Os macacos-bonobos são conhecidos por fazer sexo sem o interesse de reprodução - Reprodução/YouTube - Reprodução/YouTube
Os macacos-bonobos são conhecidos por fazer sexo sem o interesse de reprodução
Imagem: Reprodução/YouTube

Sexo além da reprodução

Além de assegurar a continuidade da espécie, muitos animais utilizam o sexo como forma de manter laços, diminuir tensões no grupo ou aliviar o estresse. E não estamos falando apenas dos humanos, ok?

Os macacos bonobos são um típico exemplo de como alguns animais usam o sexo para solucionar problemas. Quando acham uma área com alimentos e as tensões aumentam, por exemplo, os primatas relaxam com uma rodada de sexo. E vale macho com fêmea, machos com machos, fêmeas com fêmeas, jovens com adultos.

Algumas espécies, inclusive, passam a manter relações sexuais com parceiros do mesmo sexo, como é o caso das girafas, carneiros, pinguins etc.

Existem diversas teorias que explicam esse tipo de comportamento, entre elas a falta de parceiros do sexo oposto, a ingenuidade dos animais que confundem machos e fêmeas por serem muito parecidos, para demonstrar dominação e, segundo estudos mais recentes, pelo simples fato de gostarem.

casal de furões - Ina Fassbender/Reuters - Ina Fassbender/Reuters
Imagem: Ina Fassbender/Reuters

Confinamento

Muitos animais confinados, principalmente em zoológicos, passam a ter comportamentos compulsivos, inclusive em relação ao sexo, por conta do estresse. Por isso, não é incomum vê-los copulando.

Quem tem animal de estimação em casa, já deve ter passado pela situação de ver seu bichinho “grudar” na perna de uma visita. Esse ato (e o de montar em outro animal) pode ser encarado como uma forma de se mostrarem donos do território ou, simplesmente, um treino para não “perder o jeito”.

Agora, quando esse comportamento passa a ser compulsivo pode ser indício de estresse. Por isso, o indicado é buscar ajuda profissional.