Bocejo é contagioso? Entenda quando ele pode indicar um problema de saúde

Bocejar pode ser contagiante, mas também indicar cansaço ou desinteresse e até fome e estresse emocional. Inconsciente e espontâneo, o fenômeno é caracterizado por um movimento motor padronizado que consiste em uma fase longa inspiratória com abertura gradual da cavidade oral, seguido de contração muscular e uma fase rápida expiratória com relaxamento muscular.

A ciência desde a época de Hipócrates (século 4 d.C) busca a explicação para a ocorrência do bocejo.

Uma delas sugere que seria uma estratégia do organismo para remover o ar dos pulmões e oxigenar o cérebro, contudo estudos recentes não comprovam o efeito significativo do ato de inspirar mais ar pela boca nos parâmetros respiratórios e nem na oxigenação cerebral, de acordo com os especialistas entrevistados.

A fisiopatologia é incerta, assim como os mecanismos neurológicos cerebrais que induzem ao reflexo do bocejo são pouco estudados, de acordo com Maurício Hoshino, neurologista do Hospital Santa Catarina-Paulista.

O ato fisiológico é identificado ainda na fase intrauterina, a partir da 11ª semana gestacional, mas não é apenas exclusividade dos seres humanos.

"O comportamento é muito comum em mamíferos sociais (que vivem em grupos), mas, de forma isolada como reflexo multissináptico, pode ser observado em quase todos os vertebrados até os répteis. Os esboços de bocejos são descritos e debatidos cientificamente para alguns anfíbios e mesmo alguns peixes", esclarece Carlos Penatti, neurologista e especialista em check-up do Fleury Medicina e Saúde.

Confira as hipóteses e explicações sobre a possibilidade de indicar algum problema de saúde, nos episódios em que são mais constantes:

Empatia explica

"O caráter contagioso do bocejo faz parte do processo de empatia e comunicação do ser humano, estando reduzido em pacientes com desordens que afetam a habilidade de interação social, como autismo e esquizofrenia", explica Érika Iglesias, otorrinolaringologista no Hospital Universitário Professor Edgard Santos) da UFBA (Universidade Federal da Bahia), vinculado à rede Ebserh (Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares).

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O fenômeno é percebido a partir dos 5 anos e diminui com o envelhecimento. Segundo o neurologista do Fleury, tem reforço positivo quanto mais conhecida ou próxima uma pessoa está de quem boceja. "É observado em comunidades de primatas evoluídos como chimpanzés e bonobos."

A otorrinolaringologista ressalta que o bocejo, em geral, é suprimido nos momentos em que o ser humano se percebe vigiado.

No entanto, na opinião do neurologista do Hospital Santa Catarina-Paulista, considerar o bocejo como papel importante para reforço de comportamento de grupo é questionável.

Doenças do sono

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Imagem: iStock

O bocejo excessivo pode ser sinal de privação de sono e sonolência diurna que ocorrem em indivíduos com doenças do sono, como a apneia obstrutiva, conforme Iglesias.

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"Do ponto de vista fisiológico, o bocejo ocorre na transição do ciclo vigília-sono, em resposta a fadiga, fraqueza, cansaço, anedonia, fome, tédio e, por consequência, associado a múltiplos distúrbios do sono", esclarece Maurício Hoshino.

Doenças sistêmicas

"A ocorrência demasiada merece ser investigada para descartar doenças sistêmicas como anemia e hipoglicemia, uso de medicações, como sedativos e antidepressivos, e doenças do sistema nervoso central, se associados a outros sintomas, como roncos, cefaleia, alteração de memória e fraqueza", alerta Iglesias.

Bocejo patológico

Para o neurologista do Hospital Santa Catarina-Paulista, o bocejo é considerado sinal de doença quando apresenta frequência exagerada ou compulsiva e na ausência de estímulos óbvios.

Contudo, segundo ele, não há consenso sobre o quanto seria considerado excessivo ou muito frequente, tendo como princípio clínico o prejuízo social desencadeado.

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No entanto, já foi descrito como patológico em várias doenças neurológicas, como AVC, esclerose múltipla, neuromielite óptica, doença de Parkinson, enxaqueca, síncope, tumores cerebrais, hipertensão intracraniana, Chiari tipo I, epilepsia e uso de medicamentos.

Baixas temperaturas

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Um estudo realizado na Universidade de Princeton (EUA) mostrou que os episódios acontecem em maior frequência no inverno e em ambientes frios.

Na opinião do neurologista do Fleury, o reflexo de inspirar mais ar pela boca sofre influência direta pelas condições corporais e vitais, como pela temperatura corporal e nível de alerta, mas não diretamente pelas condições ambientais.

"A oxigenação prévia também não inibe o reflexo, tampouco a respiração em um ambiente menos oxigenado não ocasiona maior frequência do movimento", afirma Hoshino.

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