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Bicho com cara de gente intriga a web; especialistas explicam o que é

Vídeo de baiacu faz sucesso no Facebook - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Vídeo de baiacu faz sucesso no Facebook
Imagem: Reprodução/Facebook

Eduardo Carneiro

Colaboração para o UOL

15/09/2017 14h55Atualizada em 16/09/2017 14h08

Um vídeo de um peixe encontrado na China e dono de uma capacidade peculiar de se inflar – a ponto de ficar parecido a um rosto humano – está fazendo sucesso nas redes sociais desde que foi postado na manhã desta sexta-feira por um jornal local.

“Meu Deus. Seria isso um baiacu? Parece com a face de um humano!”, diz a publicação do Guangming Daily que já foi vista por quase 30 mil pessoas e teve cerca de mil compartilhamentos.

O UOL ouviu dois especialistas em ictiologia (ramo da zoologia que estuda os peixes) que responderam a pergunta do jornal: sim, trata-se mesmo de uma espécie de baiacu.

“O gênero não dá para identificar pelo vídeo, porque são 150 espécies de baiacu e muitas são parecidas”, explica Fernando Luiz Kilesse Salgado, curador da coleção ictiológica do Laboratório de Ecologia de Peixes da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e que também atua no Laboratório de Sistemática e Evolução de Peixes Teleósteos (LASEPT) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), onde faz doutorado.

Segundo ele, é possível identificar no vídeo que o peixe capturado pertence à ordem Tetraodontiformes, que inclui várias famílias, como a dos Diodontidae e Tetraodontidae, e são popularmente conhecidos como baiacus.

Mas por que este peixe é capaz de inflar da maneira vista no vídeo? “Porque eles têm a faculdade de engolir ar e/ou água”, diz Fernando Luiz. “Inflando assim, eles conseguem parecer mais ameaçadores, mais perigosos e maiores, o que dificulta o ataque de outros animais”.

Do Brasil à Ásia

Espécies diferentes de baiacu podem ser encontradas tanto na Bacia Amazônica e no litoral brasileiro como no ambiente marinho asiático, como explica Naércio Aquino Menezes, docente e pesquisador do Museu de Zoologia da USP (Universidade de São Paulo) e doutor em biologia pela Universidade de Harvard.

“A espécie do vídeo é muito diferente daquelas encontradas, por exemplo, nas costas do Brasil (Atlântico Ocidental), e deve ter sido apanhada no ambiente marinho, pois dá para ouvir, no vídeo, o barulho das ondas quebrando na praia”, analisa.

Mas as espécies diferentes têm algo em comum: todas são muito venenosas. “Estes peixes produzem uma toxina, presente principalmente nas vísceras, chamada tetraodontoxina capaz de matar uma pessoa se ingerida”, explica Naércio. “No Japão, por exemplo, o baiacu é muito consumido e chamado de ‘fugu’. São conhecidos casos de morte por ingestão de peixes que não tiveram suas vísceras extraídas”.

Fernando Luiz ressaltou mais uma característica particular destes peixes. “Os nomes de algumas das famílias são dados de acordo com o número de placas ósseas que estes animais têm na boca. Eles não têm dentes. O Diodontidae tem duas placas ósseas, o Tetraodontidae tem quatro e por aí vai. Com elas, eles se alimentam de conchas e de outros peixes”.

Algumas espécies também têm o corpo recoberto por espinhos - os da família Diodontidae são conhecidos inclusive como baiacus-de-espinho no Brasil. “Quando este peixe se infla, estes espinhos se ouriçam, aumentando ainda mais a proteção contra predadores”, conclui Fernando Luiz.