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'Spinner' atrapalha ao invés de aumentar concentração, diz estudo

Robert Couse-Baker/Wikimedia Commons
Imagem: Robert Couse-Baker/Wikimedia Commons

Do UOL, em São Paulo

09/10/2017 18h40

Se você aderiu à moda do "hand spinner" em busca de concentração, esqueça. Um estudo realizado no Hospital de Clínicas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), no interior de São Paulo, acaba de desmistificar o que se cogitou no auge da venda dos brinquedos no Brasil e no mundo.

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Caracterizado por uma estrutura plana com rolamento que gira ao longo de seu eixo, o spinner foi anunciado como uma ferramenta capaz de aumentar a atenção, bem como aliviar o estresse e a ansiedade em crianças com transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno do espectro do autismo (TEA) e outros distúrbios do desenvolvimento. Até mesmo as crianças sem qualquer deficiência poderiam ser favorecidas pelo aumento da concentração. Será?

"É possível que os movimentos repetitivos possam ser relaxantes e melhorar a concentração. Entretanto, nenhum estudo científico ainda demonstrou a eficácia do spinner", disse a neuropediatra Maria Augusta Montenegro, professora e pesquisadora do Departamento de Neurologia da Faculdade de Ciências Médicas da Unicamp, que comandou uma pesquisa para avaliar se o brinquedo aumenta o desempenho de pessoas saudáveis em relação à atenção e à memória verbal.

O estudo foi realizado com 34 estudantes de medicina e médicos-residentes entre 18 e 27 anos de idade, sem diagnóstico de transtornos de desenvolvimento ou psiquiátrico ou que estivessem fazendo uso de medicação psicoativa.

Divididos aleatoriamente em dois grupos, os participantes foram submetidos a testes de leitura de sequências de números e letras em ordem direta, inversa e de maneira a reordenar a sequência. Os voluntários do grupo 1 foram orientados a brincar livremente com o spinner enquanto faziam o teste. Já os voluntários do grupo 2 fizeram o teste sem brincar como o spinner. Após o experimento, o desempenho de ambos os grupos foi comparado.

A maioria dos voluntários que utilizou o spinner informou que o brinquedo era irritante e que eles preferiam fazer o teste sem ele. Dois voluntários deixaram o spinner durante o teste e vários fecharam os olhos, tentando se concentrar melhor sem olhar para o brinquedo. Outros revelaram que desejaram parar de girar o spinner enquanto estavam respondendo ao teste ou o girariam no mesmo ritmo que diziam cada número ou letra, se fosse possível.

Para permitir que os voluntários fossem livres para brincar com o spinner, segundo a pesquisadora, foi escolhido também um teste que não incluía nenhuma escrita. Inclusive, foi a partir de observações em sala de aula e de estudos sobre transtorno de movimento estereotipado --movimentos repetitivos que podem ser reprimidos por estímulos ou distrações sensoriais-- que se chegou à suposição de que o spinner poderia melhorar a concentração do aluno em sala de aula.

Como explica Montenegro, o transtorno é frequentemente observado em pacientes com TEA e outras dificuldades de desenvolvimento. "As estereotipias estão associadas à excitação, ao estresse, à fadiga e ao tédio. Alguns pacientes relatam que esses movimentos são relaxantes e aumentam seu nível de atenção", acrescenta ela.

Segundo ela, os testes utilizados na pesquisa foram capazes de avaliar a atenção e memória verbal e concluiu que o 'spinner não melhorou o desempenho e a capacidade de atenção em adultos jovens'. Embora seja necessário realizar um estudo incluindo crianças, a pesquisadora acredita ser é improvável que o brinquedo melhore a atenção em crianças saudáveis sem distúrbios do desenvolvimento ou TDAH.