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Com a morte de Hawking, quem será o próximo gênio da física?

Contribuições de Hawking o levaram a ser comparado a gênios como Albert Einstein - Reprodução
Contribuições de Hawking o levaram a ser comparado a gênios como Albert Einstein Imagem: Reprodução

Larissa Leiros Baroni

Do UOL, em São Paulo

15/03/2018 04h00

Com importantes contribuições no campo da gravidade, da teoria quântica, da relatividade e de buracos negros, o astrofísico Stephen Hawking, que morreu aos 76 anos vítima de complicações de uma doença degenerativa, foi considerado o gênio da física contemporânea. E, não à toa, era comumente comparado a grandes nomes da ciência, tais como Albert Einstein, Isaac Newton e Galileu Galilei. A pergunta que fica é: quem deve assumir a partir de agora esse posto? 

"Há quem diga que não se fazem mais gênios como antigamente. Mas essa é uma grande mentira", defende João Evangelista Steiner, astrofísico e professor do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da USP (Universidade de São Paulo). Segundo ele, a falsa impressão está atrelada ao atual modo de se fazer ciência.

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"Há, atualmente, uma quantidade enorme de cientistas muito bem capacitados, mas que não trabalham sozinhos. Fazem parte de importantes grupos, equipados com os mais sofisticados computadores e laboratórios. E os mais diversos avanços científicos comprovam isso", justifica Steiner, que cita o Prêmio Nobel de Física de 2017 para exemplificar essa mudança.

Na última edição da mais importante premiação da área, foram condecorados os astrofísicos americanos Barry Barish, Kip Thorne e Rainer Weiss por seus estudos que contribuíram para a detecção das ondas gravitacionais, um século depois de terem sido prevista por Einstein. "Um importante trabalho que envolveu mais de 1.500 cientistas", destacou Steiner.

Na época, o próprio nobel Thorne Thorne lamentou não poder compartilhar a conquista com as centenas de pesquisadores e engenheiros que tornaram possível a descoberta. "É lamentável que, devido aos estatutos da Fundação Nobel, o prêmio tenha que ir para não mais do que três pessoas. Nossa maravilhosa descoberta é obra de mais de mil de 20 países diferentes", disse o físico ligado ao LIGO (Observatório de Ondas Gravitacionais por Interferômetro Laser), nos Estados Unidos. 

Um indivíduo não mais consegue competir com o trabalho realizado por equipes bem estruturadas. Não se faz ciência sozinho.

Um gênio sem Nobel

"Hawking deixa um legado multifacetado pela sua contribuição teórica, por seu trabalho na massificação científica e por suas reflexões sociais", afirma Steiner. De acordo com ele, o astrofísico britânico teve "um grande papel no desenvolvimento da física teórica, especificamente no entendimento dos buracos negros."

Ele conseguiu, de forma pioneira, unir duas grandes teorias [gravitacional e mecânica quântica] para compreender os buracos negros. "Descobriu também a capacidade dos buracos negros de evaporarem e emitir uma radiação, que ficou conhecida como Radiação Hawking", cita o brasileiro, que descreve o trabalho do físico como a "abertura de uma estrada, que ainda não está encerrada".

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Mas as descobertas de Hawking não foram suficientes para que ganhasse um Prêmio Nobel. "Não se trata de uma injustiça. O trabalho dele tem sua importância, mas ainda precisa ser dada continuidade a ele. O que falta não é nem tanto o âmbito experimental, é a capacidade da formulação matemática desses conceitos", opina Steiner. "De qualquer forma, ele não deixa de ser importante para a física contemporânea."

Segundo o professor da USP, Hawking também foi "um grande divulgador dos avanços científicos de ponta para o cidadão comum". "Não que ele tenha sido pioneiro nesse trabalho, mas acabou se destacando por ter conseguido atingir o mundo inteiro. E isso, sem dúvida, foi importantíssimo. Já enfrentamos um grande analfabetismo científico", aponta Steiner.

Outro legado que o britânico deixa é a reflexão sobre os perigos do avanço científico. "Ele reconhecia a importância da ciência, mas não se cansava de alertar para os limites que precisavam ser impostos a esses avanços diante dos desconhecidos riscos, seja uma hecatombe nuclear, uma guerra bacteriológica ou o próprio aquecimento global."