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Testes de paternidade: como são feitos e qual a taxa de confiança?

Stefhanie Piovezan / Colaobração para o UOL
Imagem: Stefhanie Piovezan / Colaobração para o UOL

Stefhanie Piovezan

Colaboração para o UOL

25/04/2018 04h02

Em um equipamento que lembra uma impressora, partículas do corpo humano são submetidas a análises de composição genética todos os dias, em laboratórios públicos e privados. O objetivo: responder com 99,99% de precisão se uma determinada pessoa é o pai daquela criança, por meio dos testes de paternidade.

Disponíveis em larga escala desde os anos 1990, os testes de paternidade põem fim a dúvidas que, antes, poderiam nunca ser respondidas. Hoje, esses testes podem ser contratados pela internet, comkits enviados pelos Correios, ou nos institutos de medicina legal dos estados, quando a dúvida sobre a paternidade vira caso de justiça.

Só no estado de São Paulo, oo Imesc (Instituto de Medicina Social e Criminologia de São Paulo), são realizados cerca de 10 mil exames desse tipo por mês.

“A maioria dos casos que atendemos envolve crianças, recém-nascidos”, conta Euclides Matheucci Júnior, diretor científico de um laboratório privado que realiza exames de paternidade há mais de 20 anos.

Ele explica que, apesar dos avanços da genética e da taxa de confiança de quase 100%, há uma situação em que os testes ainda não são precisos: no caso de dúvida entre dois prováveis pais gêmeos.

“Na teoria sabemos que há pequenas diferenças entre o genoma de um e do outro, mas na prática é impossível diferenciar”, diz o geneticista Aguinaldo Luiz Simões, professor da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo), em Ribeirão Preto.

Como funcionam

Sequenciador genético - Stefhanie Piovezan/Colaboração para o UOL - Stefhanie Piovezan/Colaboração para o UOL
O bioquímico Matheucci mostra o sequenciador, aparelho que analisa até 96 amostras de material genético em teste de paternidade
Imagem: Stefhanie Piovezan/Colaboração para o UOL

De maneira simplificada, o teste de paternidade é uma ferramenta para ler o “código de barras” que todos nós trazemos em nossas células. O exame parte do princípio de que esse código – isto é, o DNA – é único de pessoa para pessoa e é transmitido para os filhos.

Para que os cientistas tenham acesso a esse código, criança, mãe e possíveis pais precisam fornecer material biológico para análise. Podem ser amostras de sangue ou até material extraído pela fricção entre cotonetes e a parte interna da bochecha, em um processo de coleta com “swabs” (cotonetes) que não precisa, necessariamente, ser realizado em laboratório.

A análise do material pode ser realizada usando duas técnicas – uma mais manual e outra mais automatizada.

Na primeira, as amostras do material genético são dispostas sobre uma bandeja com gel. Gera-se uma corrente elétrica e os fragmentos do DNA se movimentam, de maneira que os pedaços mais “pesados” do código fiquem para trás. São esses pedaços mais pesados que contêm mais estruturas repetidas, o que permite ao geneticista comparar um código com outro.

A outra técnica segue o mesmo princípio, mas é realizada de maneira automatizada, pelos sequenciadores.

O material genético é marcado com substâncias fluorescentes, se movimenta em tubos individuais e, ao fim, uma câmera capta as diferentes cores de cada trecho.

“Os dois métodos são confiáveis. Há quem diga que a forma automatizada eliminaria possíveis erros de quem faz a análise, mas a máquina teve de ser calibrada para realizar os testes, então também houve ação humana”, opina Simões.

Para garantir que a análise seja confiável, é preciso analisar diversos trechos do código do DNA. “Uma região do código só é pouco, pode ser que outra pessoa tenha a mesma combinação”, explica Flavio Henrique da Silva, professor de genética molecular na Ufscar (Universidade Federal de São Carlos).

Testes sem regulamentação específica

No laboratório visitado pela reportagem, por exemplo, usam-se 17 regiões do código genético para as análises de paternidade. Mas o número – e até a escolha de quais trechos analisar - pode variar. “Não existe uma legislação, o que existe é um compromisso ético entre os laboratórios”, diz Matheucci.

O setor cresceu e, sem a regulamentação, muitos laboratórios seguem os padrões norte-americanos. “São aceitos testes em que a probabilidade de paternidade é de pelo menos 99,99%”, completa Matheucci.

O professor Simões, da USP de Ribeirão Preto, conta que muitas vezes as pessoas não aceitam o resultado e querem repetir. Nesses casos, a sugestão é procurar outro laboratório para uma segunda investigação.