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Lua possui poças de água congelada em áreas de sombra permanente

Pontos de gelo de água (em verde) no polo Norte da Lua  - Pnas
Pontos de gelo de água (em verde) no polo Norte da Lua Imagem: Pnas

Fernando Cymbaluk

Do UOL, em São Paulo

20/08/2018 16h00

Há água na Lua. O precioso elemento está congelado em crateras nos polos do satélite, em regiões que ficam permanentemente à sombra do Sol. E nada de abundância. Apenas cerca de 3,5% da área sombreada possui gelo. Mas já seria o suficiente para ser usado de diferentes formas em futuras missões lunares.

O achado está descrito em artigo publicado na revista "Pnas" nesta segunda-feira (20). "Encontramos evidências diretas e definitivas de gelo de água exposto na superfície das regiões polares lunares", afirmam os pesquisadores liderados por Shuai Li, da Universidade de Brown, nos EUA.

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A presença de água na Lua já era consenso entre cientistas devido à existência dessas áreas nos polos que ficam constantemente à sombra. A mesma característica é encontrada em outros astros do chamado Sistema Solar interior, entre o Sol e o cinturão de asteroides, onde também há água congelada.

Contudo, diferentemente de corpos como Mercúrio e Ceres, onde a presença de água já foi comprovada, "as evidências diretas de gelo lunar permaneciam vagas", dizem os cientistas no artigo. Os pesquisadores realizaram medições de radiação infravermelha dos polos lunares e encontraram traços consistentes com a presença de gelo.

"Desconsiderando o fato de ser em pequena quantidade, essa água pode gerar, por exemplo, hidrogênio (combustível) e oxigênio", diz Enos Picazzio, astrônomo da USP (Universidade de São Paulo), que não participou do estudo.

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Pontos em azul indicam locais onde foi detectada a presença de água congelada no polo Sul da Lua
Imagem: Pnas

De onde vem a água?

Para se manter congelada, a água precisa ficar protegida da luz solar em corpos celestes como Mercúrio, a Lua e Ceres --planeta anão localizado no cinturão de asteroides, entre Marte e Júpiter. Esses astros possuem eixo de rotação pouco inclinado em relação ao Sol. Assim, áreas dos polos ficam constantemente à sombra.

Como consequência, as temperaturas superficiais nessas regiões são extremamente baixas (menos de -163°C). O único calor que incide nesses pontos é o proveniente do interior dos astros e da luz do Sol refletida indiretamente pela topografia ao redor.

No caso da Lua, as poças de água congelada se formariam com o acúmulo de compostos voláteis vindos de fora do astro ao longo do tempo. Para os pesquisadores, os processos de acumulação de gelo são diferentes dos que ocorrem em Mercúrio ou Ceres, onde o gelo é mais puro e abundante do que na Lua.

"Nesses corpos, a água está integrada desde a sua formação. No caso da Lua, a água veio de agente externo. Por exemplo, da colisão de corpos ricos em água com a superfície lunar", explica Picazzio.