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Com aquecimento global, furacões devem ser mais frequentes, diz estudo

HO/NOAA/AFP
Imagem: HO/NOAA/AFP

Edison Veiga

Colaboração para o UOL, em Milão

28/09/2018 04h01

A temporada de furacões do Atlântico Norte em 2017 foi mais violenta do que o normal. Foram registrados seis fortes tempestades do tipo, contra uma média esperada sempre entre quatro ou cinco.

De acordo com estudo publicado na última quinta (27) na revista ‘Science’ a explicação estaria no aquecimento do Atlântico em relação ao restante dos oceanos.

“Usando um conjunto de modelos experimentais em alta resolução, mostramos que o aumento dos furacões de 2017 não foi causado pelas condições do fenômeno La Niña, do Oceano Pacífico. E, sim, principalmente, por condições da superfície marítima mais quente do Atlântico Norte tropical”, explica o cientista ambiental japonês Hiroyuki Murakami, que desenvolveu o estudo na Universidade de Princeton, dos Estados Unidos.

Os dados trazem conclusões alarmantes: 

No futuro, um padrão semelhante de aquecimento do Atlântico Norte, somado ao aumento de temperatura da superfície do mar a longo prazo, provavelmente levará a números ainda maiores de furacões

O estudo ainda diz que “o principal fator que controla atividade dos furacões no Atlântico parece ser o quanto o Atlântico tropical se aquece mais em relação ao resto dos oceanos da Terra.”

Causas humanas

O estudo mostra como as atividades humanas acabam interferindo na incidência dos furacões, já que fenômenos como efeito estufa estão intimamente ligados ao modo como o homem cuida (ou deixa de cuidar) do planeta.

Das seis fortes tempestades do tipo ocorridas em 2017, três ocorreram na costa do Golfo e no Caribe, causando forte impacto e dano, portanto, em regiões habitadas por populações humanas.

O estudo sugere que monitorar a temperatura da superfície do mar e suas variações, antevendo anomalias, pode ser útil para estimar a probabilidade de grandes temporadas de furacões no futuro.

Para realizar o levantamento, Murakami e seus colegas analisaram a temporada de 1o. de julho a 30 de novembro de 2017.

Um dos devastadores exemplos do período foi o furacão Irma. O ciclone tropical formou-se em 30 de agosto de 2017 e dissipou-se em 12 de setembro. Chegou a produzir ventos de mais de 200 quilômetros por hora. É considerado o furacão mais forte já registrado na bacia do Oceano Atlântico fora do Caribe e do Golfo do México.

Irma deixou cerca de 40 mortos no Caribe e 50 na Flórida, nos Estados Unidos. A evacuação de turistas por conta do furacão é considerada a maior da história de Miami. Foram registrados danos catastróficos em Anguilla, Antígua e Barbuda, Bahamas, Ilhas Turcas e Caicos, Ilhas Virgens, Porto Rico, São Bartolomeu e Saint Martin.

Em geral, o La Niña – que costuma resfriar as águas do Pacífico equatorial – é quem recebe a culpa pela formação de furacões. Entretanto, a equipe de Murakami notou que, justamente em 2017, os efeitos do La Niña foram bastante sutis, o que aparentemente não condizia com um ano em que os furacões foram maiores em número e em intensidade.

Foi então que eles descobriram as anomalias de temperatura na superfície do Atlântico, exatamente nessa zona tropical. E acabaram correlacionando essa variação à incidência dos furacões.

Alerta para o futuro

Os cientistas realizaram alguns experimentos, nos modelos experimentais de laboratório, supondo variações prováveis de temperatura provocados pela ação humana no futuro. E este clima mais quente, cenário bastante possível, acarretaria um risco contínuo de alta densidade de furacões no Caribe e na costa norte-americana.