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Sua língua materna ocupa o equivalente a 1,5 MB do seu cérebro

Um falante adquire cerca de 12,5 milhões de bits de informação em seu idioma nativo - iStock
Um falante adquire cerca de 12,5 milhões de bits de informação em seu idioma nativo Imagem: iStock

Gabriel Joppert

Colaboração para o UOL, em São Paulo

29/03/2019 15h04

Uma pesquisa publicada na Royal Society "Open Science" estimou que, da infância à vida adulta, um falante adquire cerca de 12,5 milhões de bits (aproximadamente 2 bits por minuto) de informação ligada a seu idioma nativo.

"O nosso estudo é o primeiro a quantificar o aprendizado necessário para adquirir linguagem", explicou Steven Piantadosi, coautor e professor assistente de psicologia na Universidade da Califórnia, em Berkeley (EUA), em comunicado à imprensa.

Pode não parecer muito; afinal, a informação toda caberia em um antigo disquete de 1,5 MB. Mas para Piantadosi, isso destaca que crianças e adolescentes "têm capacidade impressionante, absorvendo mais de mil bits de informação nova a cada dia".

Um bit (dígito binário) é a unidade básica de armazenamento de dados na computação, codificada em 0 ou 1. O cérebro codifica as informações de maneira diferente, mas o estudo oferece uma base para comparação.

As descobertas desafiam a ideia de que aprender uma língua na juventude é algo que não exige esforço e que robôs teriam facilidade neste processo.

Piantadosi e Frank Mollica --autor principal do estudo e candidato a PhD na Universidade de Rochester em ciências cognitivas-- chegaram aos resultados usando modelos computacionais para fazer cálculos sobre semântica e sintaxe linguística, medindo as quantidades e os tipos das informações armazenadas ao longo do processo.

Uma descoberta importante foi a de que a maior parte da informação de conhecimento linguístico está ligada aos significados das palavras, e não à gramática de uma língua e nem aos fonemas. Cada nova palavra aprendida requer um esforço de grandes quantidades de bits (que podem ser comparados a perguntas de resposta "sim" ou "não"). A palavra é reduzida a grupos de sentido similar cada vez mais restritos, até se chegar a um significado específico e novo.

Esse foco no significado das palavras é o que nos distingue da inteligência artificial da Siri ou da assistente do Google. "As máquinas sabem quais palavras podem estar juntas e onde colocá-las em uma frase, mas conhecem muito pouco sobre o significado delas", disse Piantadosi.

Os pesquisadores também estimaram que, ao se aprender uma língua nova, não é necessário armazenar novamente cada bit de informação, pois muitas palavras em línguas diferentes carregam ideias parecidas.