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Chineses criam macacos com genes do cérebro humano. Lembrou de um filme?

Experimento controverso pode ter tornado macacos mais inteligentes e o cinema já pensou o resultado disso - Weta/20th Century Fox/Handout via Reuters
Experimento controverso pode ter tornado macacos mais inteligentes e o cinema já pensou o resultado disso Imagem: Weta/20th Century Fox/Handout via Reuters

Gabriel Joppert

Colaboração ao UOL, em São Paulo

11/04/2019 14h28

Um controverso estudo envolvendo macacos transgênicos foi divulgado pela Xinhua, agência de notícias do governo chinês. Na busca de entender a história evolutiva da inteligência humana, foram criados 11 macacos rhesus com cópias do gene humano MCPH1, ligado ao desenvolvimento cerebral.

A pesquisa, descrita como "a primeira tentativa de interrogar experimentalmente a base genética do cérebro humano usando macacos transgênicos", envolve um grupo de pesquisadores de diferentes instituições chinesas e dos EUA, e está gerando um intenso debate ético.

O artigo afirma que os macacos modificados apresentaram um desenvolvimento menos acelerado do sistema neural -- como se observa em humanos na primeira infância. Eles também mostraram melhor memória de curto prazo e menor tempo de reação em um teste com cores e formas.

Os animais foram criados usando o método de edição de genes CRISPR, tecnologia que vem sendo aplicada pelo mundo com cautela, mas que tem sido levada ao limite pelo governo chinês -- que já fez testes inclusive em humanos. A China também é um dos países mais permissivos em relação à pesquisa com primatas, cada vez mais controlada nos Estados Unidos e na Europa.

Martin Styner, cientista de computação da University of North Carolina, é um dos que assina o artigo e acredita que o experimento tem algumas limitações. "Quando se faz este tipo de experiência, é preciso saber bem o que se está tentando aprender, como isso ajuda a sociedade, e acho que não é este o caso aqui", afirmou em entrevista ao MIT Technology Review.

Styner, que treinou estudantes chineses em como extrair dados das imagens computadorizadas dos cérebros, disse que pensou em pedir para ser tirado dos créditos do estudo.

Bing Su, do Instituto Kunming de Zoologia, um dos idealizadores da pesquisa, minimizou os dilemas éticos. Por email ao Techonology Review, ele afirmou que não há risco de, com a introdução de apenas alguns genes, criar primatas superinteligentes ou humanizados. "Apesar de os genomas serem próximos, também há dezenas de milhões de diferenças", assegurou.

Su pretende criar mais macacos rhesus transgênicos para testar o efeito da inclusão de outros tipos de genes ligados à inteligência humana. O próximo deve ser o SRGAP2C, variação de DNA que surgiu no mesmo período em que os primeiros humanos estavam tomando o lugar dos australopitecos.