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Superfície de gelo no Ártico foi o segundo menor já registrado

Por Timothy Gardner

04/04/2007 21h42

NOVA YORK, EUA (Reuters) - Em um sinal do aquecimento provocado pelos gases do efeito estufa, a superfície de gelo no mar do Ártico neste inverno foi a segunda menor já registrada, afirmaram na quarta-feira meteorologistas norte-americanos.

A extensão de gelo no oceano, ou a área do mar onde ao menos 15 por cento da superfície é tomada pelo gelo, somou 14,7 milhões de quilômetros quadrados em março, afirmou o Centro Nacional de Dados sobre o Mar e o Gelo (NSIDC), com base no Colorado.

Março costuma marcar o final do inverno no Ártico, um período no qual a camada de gelo recupera-se do patamar mínimo registrado no verão.

O nível de gelo observado no mês de março ficou um pouco acima do recorde mínimo verificado em março do ano passado, quando a extensão da superfície de gelo ficou em 14,5 milhões de quilômetros quadrados.

E a baixa concentração do último inverno no hemisfério norte -- o mais quente já registrado, segundo o governo norte-americano -- é parte de uma tendência de haver cada vez menos gelo.

"Essa tendência de longo prazo, que parece estar ganhando velocidade, é um indício claro do aquecimento. E a única forma de haver aquecimento é por meio dos gases do efeito estufa", afirmou Walt Meier, cientistas do NSIDC.

Globalmente, o dióxido de carbono (principal gás do efeito estufa) vem sendo atirado na atmosfera em quantidades cada vez maiores.

A extensão de gelo do mar do Ártico em março de 2007 é cerca de 7 por cento menor do que a média verificada entre 1979, primeiro ano em que essa medida foi feita por satélites, e 2000.

À medida que o mundo esquenta, a extensão de gelo que cerca os dois pólos da Terra deixa preocupados os cientistas. O derretimento do gelo pode criar um efeito cumulativo capaz de gerar ainda mais calor. O gelo e a neve refletem de volta para a atmosfera uma quantidade maior de raios solares.

Mas, quando derretem, o oceano passa a absorver mais calor, o que geraria ainda mais aquecimento.

Um projeto de relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) que deve ser divulgado na sexta-feira afirmou que as mudanças climáticas nos pólos podem ameaçar populações indígenas da região devido à destruição da permafrost (a camada permanentemente congelada da superfície).

E podem fazer sumir habitats usados por aves e mamíferos migratórios, o que teria "grandes implicações" para predadores como as focas e os ursos polares, disse o relatório.

A população de ursos polares na baía do rio Hudson (Canadá) diminuiu de cerca de 1.200 em 1989 para 950 em 2004, uma queda de 22 por cento, segundo cientistas do Centro de Vôo Espacial Goddard, em Maryland, uma entidade pertencente à Nasa.

Meier disse que uma menor extensão de gelo no mar durante os invernos pode ameaçar o habitat de animais selvagens porque isso significa que o gelo está se formando mais tarde e derretendo antes.

Nos últimos invernos, o gelo nos mares tem ficado em seus níveis mais baixos de "segurança" desde pelo menos um breve período de resfriamento verificado na metade do século 19, quando o mundo saiu de um período de aquecimento surgido na Idade Média, afirmou Meier.

O NSIDC, que integra a Universidade do Colorado e que é ligado à Agência Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) do governo dos EUA, usa registros de navios para obter dados sobre o passado mais remoto.

Segundo Meier, a extensão de gelo nos mares durante o inverno deve continuar pequena ou ficar ainda menor nos próximos anos.