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Especialistas discutem termos de relatório sobre clima

Por Jeff Mason

05/04/2007 19h10

BRUXELAS, Bélgica (Reuters) - Especialistas em questões climáticas enfrentavam-se na quinta-feira a respeito dos termos a serem usados em um relatório da Organização das Nações Unidas (ONU), no qual deve ser traçado um panorama pessimista sobre o impacto do aquecimento global.

Devido às desavenças, os cientistas discutiram noite adentro tentando encontrar um consenso antes do final do prazo para a divulgação do documento, na sexta-feira.

Delegados de mais de cem países estão em Bruxelas desde segunda-feira para debater o relatório, que descreve como as mudanças climáticas já afetam o planeta. A menos de 12 horas do prazo final, eles ainda discutiam acaloradamente os termos do documento.

"Há um acordo sobre as questões, mas não há um acordo sobre como exprimi-las," afirmou à Reuters, durante uma pausa, Wolfgang Cramer, representante da Alemanha.

"Alguns países tendem a querer declarações mais amenas e alguns tendem a desejar declarações mais contundentes. E é basicamente sobre isso que se está lutando."

O relatório prevê que a elevação das temperaturas provocará mais fome na África, derreterá as geleiras do Himalaia, fará surgirem mais ondas de calor nos EUA e danificará a Grande Barreira de Corais da Austrália. Esse deve ser o mais importante documento, desde 2001, sobre o impacto regional das mudanças climáticas.

"Há muitas discussões sobre o grau de confiança nessa ou naquela conclusão," afirmou Gary Yohe, um dos principais autores do estudo, afirmando que as negociações devem continuar até mais tarde.

Segundo Yohe, os EUA e a Austrália, acusados pela União Européia (UE) de prejudicar as negociações internacionais para estender o Protocolo de Kyoto (tratado que busca reduzir as emissões de gases do efeito estufa), haviam se mostrado cuidadosos durante os debates sem, no entanto, impedir o prosseguimento deles.

"Eles não estão questionando a ciência. Eles só querem ter certeza de que todas as afirmações do sumário têm uma base," disse, a respeito da delegação norte-americana.

O Painel Intergovernamental sobre as Mudanças Climáticas (IPCC) apóia-se sobre o trabalho de 2.500 cientistas. Um relatório divulgado anteriormente em Paris, em fevereiro, concluiu ser mais de 90 por cento provável que o recente aquecimento da Terra tenha sido, principalmente, resultado de atividades humanas.

FUNDAMENTAL PARA AS POLÍTICAS FUTURAS

O fato de que os líderes mundiais vão ler o sumário do relatório fez aumentar a pressão por um consenso a respeito das frases constantes nele, afirmou Hans Verolme, diretor do programa de mudanças climáticas da WWF, um grupo ambientalista que participa do encontro na condição de observador.

"Há discussões sobre se algo é 'provável' ou 'muito provável'. E, segundo acredito, isso se dá porque as pessoas estão cientes de que os chefes de Estado estão prestando atenção," disse a repórteres.

Apenas um encontro do IPCC terminou sem que se chegasse a um consenso, isso em 1995, em Genebra. Mas o órgão conseguiu reunir-se com sucesso poucas semanas depois, em Montreal. "Não é o fim do mundo se for preciso suspender as coisas durante um tempinho," disse o canadense James Bruce, que presidiu aquelas negociações.

Nesta semana, grupos ambientalistas afirmaram que os governos do planeta todo precisam adotar medidas para reduzir as emissões de gases do efeito estufa sob pena de ampliarem a miséria no mundo em desenvolvimento e de destruírem maravilhas da natureza no globo todo.

O relatório diz que as temperaturas cada vez mais altas representarão um custo para a sociedade humana, mesmo que países do norte do planeta (como o Canadá e a Rússia) consigam beneficiar-se de um aumento na quantidade de suas terras aráveis.

Um projeto do relatório diz que "cerca de 20 a 30 por cento das espécies de seres vivos devem ficar sob risco de extinção ou embarcar em um processo irreversível de extinção" caso a média mundial de temperatura eleve-se entre 1,5 e 2,5 graus Celsius.

O relatório destaca a relação entre as atividades humanas e as mudanças climáticas, dizendo que o nível dos mares pode continuar subindo durante séculos.

"Em uma escala global, o fator antropogênico (humano) do aquecimento nas últimas três décadas exerceu uma influência clara sobre muitos sistemas físicos e biológicos," diz o documento. (Reportagem adicional de Alister Dolye em Oslo)