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Após doenças e escândalos, chineses consomem com mais cuidado

Por Lindsay Beck

30/05/2007 11h14

PEQUIM (Reuters) - Primeiro, a gripe aviária tornou preocupante o consumo de frango. Em seguida, veio o porco contaminado. Pesticidas nos legumes. Aditivos tóxicos nos alimentos processados.

Os consumidores chineses estão um tanto perdidos sobre o que podem comer, e nos ambientes urbanos mais sofisticados os clientes de supermercados, assustados com a série de problemas de segurança nos alimentos, pensam duas vezes no que vão colocar nos carrinhos.

"Olhe a cor dessas coisas", disse Ning Qiyun, 32 anos, examinando um pacote de avermelhadas salsichas fatiadas numa gôndola. "Comemos muito menos esse tipo de coisa agora. Na verdade, compro pouquíssimo desse tipo de coisa", contou Ning, que escolhia o jantar para o marido e a filha de 10 anos.

Segundo a agência de notícias Xinhua, cerca de 60 por cento dos óleos comestíveis à venda na cidade de Chongqing (sudoeste) podem causar envenenamento e danos ao fígado e aos rins.

Coincidentemente, a francesa Danone anunciou que cinco contêineres de água mineral Evian seriam devolvidos à França pelas autoridades chinesas porque testes detectaram excesso de microorganismos.

Em nota, a Danone disse que o lote chegou à China em fevereiro e cumpria as regras da Organização Mundial da Saúde (OMS).

A qualidade e segurança dos produtos chineses estão sob suspeita no mundo todo desde que rações contaminadas importadas do país provocaram a morte de cães e gatos nos EUA, e toxinas em um creme dental levaram ao "recall" do produto na América Latina.

Na própria China, a população ouve histórias quase diárias de envenenamentos coletivos ou produtos contaminados, e o governo está começando a agir.

As medidas incluem o "recall" de alimentos, a criação de uma lista-negra de produtos que violam regras e, no caso mais dramático, a condenação à morte do ex-diretor da agência de alimentos e medicamentos, que teria cobrado propinas em troca da aprovação de remédios.

Zheng Xiaoyu pode ser apenas um bode expiatório na tentativa da China de mostrar ao resto do mundo que leva o setor alimentício e farmacêutico a sério, mas a sentença, apesar da sua dureza, despertou pouca pena.

"Não devemos ter qualquer misericórdia por Zheng Xiaoyu. Mesmo a morte seria boa demais para ele", disse uma mensagem num fórum da Internet. "A quantia que ele pegou em propinas é uma coisa pequena, mas sua corrupção nos medicamentos trouxe a calamidade para 1,3 bilhão de chineses."

Uma consumidora de Pequim que se identificou como Ye disse que os chineses estão acostumados a produtos falsificados, mas que não há espaço para regulamentos brandos quando se trata de comidas e remédios.

Ela afirmou andar preocupada com os aditivos em alimentos embalados e disse que agora prefere comprar produtos que ela chamou de "verdes".

"Por exemplo, esses repolhos podem não parecer tão bons, mas talvez sejam porque usaram menos pesticidas", exemplificou, apontando uma barraca de legumes.

(Com reportagem de Vivi Lin e Kirby Chien)