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Médica italiana "constrói" vaginas para portadoras de síndrome

Por Stephen Brown

30/05/2007 20h43

ROMA (Reuters) - Uma médica italiana reconstruiu as vaginas de duas mulheres nascidas com uma rara deformação congênita, usando células delas próprias para desenvolver tecido vaginal em laboratório pela primeira vez.

Cinzia Marchese, do hospital Policlínico Umberto 1º, de Roma, contou à Reuters na quarta-feira que a primeira das pacientes, de 28 anos, se submeteu à cirurgia há um ano e agora tem uma vagina saudável.

"Ela se casou e está vivendo uma vida normal", disse Marchese, cujo estudo foi publicado na revista Human Reproduction.

A segunda operação foi realizada na terça-feira em uma menina de 17 anos, e os primeiros sinais são de que as células retiradas por biopsia do local onde deveria estar a vagina vão crescer e gerar mucosas.

As duas mulheres sofriam da chamada Síndrome de Mayer-Von Rokitansky-Kuster-Hauser (MRKHS) que afeta uma a cada 4 mil a 5 mil bebês do sexo feminino.

As meninas com essa síndrome nascem sem vagina, embora normalmente possuam útero, ovário e órgãos externos secundários, como seios, normais. Elas não podem ter relações sexuais e nem ter filhos.

"Normalmente a síndrome é diagnosticada quando elas são jovens e tentam ter intercurso sexual pela primeira vez e dói", disse Marchese.

Frequentemente constrangidas de conversar com os pais na juventude, as vítimas da MRKHS costumam passar "o resto das suas vidas sem vida sexual normal, embora sejam mulheres normais com sentimentos normais", segundo a médica.

Até agora, os cirurgiões só conseguiam corrigir o problema reconstruindo uma vagina com pele enxertada ou do tecido intestinal, mas a cirurgia é altamente invasiva, longa e dolorosa. E o crescimento de uma parede normal de mucosa demora.

Essas mulheres, quando têm ovários, podem fazer inseminação artificial, mas precisam de um "útero de aluguel" para gestar o bebê.

"O que fazemos é tirar uma pequena biopsia de 0,5 centímetro do lugar onde a vagina deveria estar", disse Marchese. Uma enzima então é usada para romper o tecido e permitir que as células imaturas --as células-tronco-- gerem por conta própria uma nova mucosa.

Foram necessários 15 dias para que se obtivesse uma camada grossa o suficiente para ser implantada nas pacientes, segundo Marchese, 47 anos, professora de Patologia Clinica e Biotecnologia.

A médica estudou o uso de células-tronco para construir "folhas" de pele em laboratório, fornecendo enxertos cutâneos para vítimas de queimaduras, na Escola de Medicina de Harvard, com o pioneiro da técnica, Howard Green.

"Quando voltei para a Itália modifiquei esta técnica para o tecido da mucosa vaginal", disse ela, acrescentando que o sucesso da técnica pode ser uma boa notícia para mulheres com câncer ou outras doenças na vagina.