Topo

Falta de médicos e enfermeiros prejudica combate à Aids

Por Michael Perry, de Sydney

23/07/2007 13h18

O maior desafio enfrentado pelos que lutam contra a Aids deixou de ser a falta de dinheiro para os programas de pesquisa e tratamento e se transformou na falta de estruturas locais para o atendimento médico nos países mais atingidos, afirmou na segunda-feira o Banco Mundial.

Apesar de 2 milhões de pessoas receberem atualmente o tratamento contra o vírus HIV (da doença), a falta de instituições de atendimento médico em muitos países africanos e asiáticos vinha prejudicando os programas de combate à Aids, afirmou Debrework Zewdie, chefe do programa anti-HIV do banco.

A ausência de locais adequados para guardar os remédios fez com que lotes dele estragassem antes do tempo. E a saída para o exterior de médicos e pesquisadores da área traduzia-se em falta de pessoas capazes de implementar os programas de tratamento, disse Zewdie na conferência em Sydney da Sociedade Internacional para Aids.

"Nosso maior desafio não é a falta de dinheiro, mas a capacidade limitada dos serviços de atendimento médico em muitos países com as maiores taxas de contaminação", afirmou Zewdie a repórteres durante o encontro, o maior do mundo a respeito da doença e do qual, neste ano, participam 5.000 delegados de 133 países.

"Enfrentamos uma carência enorme quando se trata de médicos, de outros profissionais da área de saúde e de pesquisadores. Essas pessoas não apenas proveriam tratamento, como coordenariam também operações locais."

Segundo o Banco Mundial, a Etiópia, por exemplo, possui menos de 2.000 médicos ou cerca de um médico para cada 100 mil pessoas. A Papua Nova Guiné, que enfrenta uma das epidemias de Aids com maior velocidade de disseminação do mundo, possui apenas 284 médicos -- mas metade deles trabalha no exterior.

A Organização das Nações Unidas (ONU) diz que 40 milhões de pessoas carregam o vírus da Aids no planeta. O número de doentes que recebe tratamento aumentou dramaticamente, de 240 mil em 2001 para 1,3 milhão em 2005.

Um relatório do grupo Médicos Sem Fronteira (MSF), apresentado também na conferência, afirmou que, apesar da grande redução no preço de alguns dos remédios de combate à doença, os medicamentos menos tóxicos hoje indicados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) haviam se tornado mais caros.

"A falta de competição e os preços altos demais quando se trata dos remédios de primeira linha recomendados pela OMS podem fazer com que as pessoas dos países em desenvolvimento não sejam capazes de se aproveitarem dos novos tratamentos", afirmou Karen Day, do MSF.