Topo

Vida nos trópicos pode ser a mais afetada por mudanças no clima

Por Deborah Zabarenko<br>De Washington

06/05/2008 10h18

Os ursos-polares talvez tirem de letra. Quem deve sofrer de verdade com o aquecimento global, mesmo que de alguns poucos graus, são as criaturas tropicais, que já vivem em lugares bastante quentes, disseram cientistas na segunda-feira.

Isso não significa que os animais polares não devam sentir o impacto da mudança climática, pois é justamente nas maiores latitudes que o aquecimento neste século deve ser mais intenso, de até 10 graus celsius.

Mas, segundo Curtis Deutsch, da Universidade de Los Angeles (Califórnia), há bem menos espécies no Ártico, na Antártida e nas zonas temperadas do que nos trópicos, onde muitos animais já vivem no limite do calor suportável.

Por isso, mesmo o cenário mais ameno previsto para 2100 - aquecimento de 3 graus celsius - já poderia provocar a extinção de vários animais, disse Deutsch por telefone.

Em pesquisa publicada na revista Proceedings, da Academia Nacional de Ciências dos EUA, Deutsch e seus colegas investigaram o que aconteceria com animais de sangue frio dos trópicos nos próximos cem anos caso as previsões sobre o efeito estufa estejam corretas.

Eles escolheram os animais de sangue frio -- em geral insetos, mas também sapos, lagartos e tartarugas --porque os de sangue quente têm mais possibilidades de adaptação (perdendo pêlos, por exemplo).

Já para os animais de sangue frio as opções se restringem a atitudes como buscar uma sombra, segundo Deutsch.

"Se nada mais acontecer, se eles apenas forem submetidos ao aquecimento e todo o resto do seu meio ambiente permanecer igual, prevemos que suas populações iriam se estraçalhar mais rapidamente", afirmou, referindo-se ao aumento da mortalidade e redução da natalidade nessas espécies.

Na opinião dele, a tendência seria que os animais migrassem para lugares mais altos ou temperados, ou então que evoluíssem para resistir ao calor.

Caso migrem ou sofram mutações, isso teria um impacto importante para os humanos que vivem longe dos trópicos, já que os insetos têm um papel particularmente importantes na polinização de lavouras agrícolas e na sintetização de matérias orgânicas.

"Os efeitos diretos da mudança climática sobre os organismos que estudamos parecem depender muito mais da flexibilidade dos organismos do que da quantidade de aquecimento previsto para onde eles vivem", disse o co-autor Joshua Tewksbury, da Universidade de Washington.

"As espécies tropicais nos nossos dados eram em geral especialistas térmicos, o que significa que o seu atual clima é quase ideal e que qualquer aumento de temperatura gerará problemas para eles", disse Tewksbury em nota à imprensa.