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Volume de gelo no Ártico é o menor já registrado, diz ONU

Por Robert Evans<br>Em Genebra

16/12/2008 20h43

O volume de gelo no Ártico atingiu neste ano o menor nível já registrado, e as mudanças climáticas já estão provocando morte e devastação em muitas partes do mundo, disse na terça-feira a Organização Meteorológica Mundial (OMM, um órgão da ONU).

Embora a temperatura média do planeta em 2008 (14,3C) tenha sido, por uma fração de grau, a mais baixa do século, a tendência continua sendo de aquecimento, segundo a entidade.

"O que está acontecendo no Ártico é um dos principais indicadores do aquecimento global", disse Michel Jarraud, secretário-geral da OMM. "A tendência geral ainda é de alta."

Um relatório apresentado por ele numa entrevista coletiva mostrou que a cobertura de gelo do Ártico caiu no verão/outono local para a segunda menor extensão desde o início dos registros com fotos de satélite, em 1979.

Por se tratar de um gelo mais fino, porém, os especialistas consideram que o volume ficou abaixo do recorde. "A temporada fortemente reforçou uma tendência negativa de 30 anos na extensão do gelo do mar Ártico", disse a agência, com sede em Genebra.

O dramático desabamento de um quarto das antigas banquisas de gelo da ilha Ellesmere, no Canadá, foi um dos fatos mais recentes que contribuíram para que a cobertura de gelo na região passasse de 9.000 quilômetros quadrados há um século para apenas 1.000 quilômetros quadrados.

A OMM disse que a ligeira desaceleração do aquecimento neste ano - aumento de 0,31C sobre os 14C do período-base 1961-90, contra uma média de 0,43C entre 2001-2007 - se deveu a ocorrência de um fenômeno La Niña relativamente forte no final de 2007, no Pacífico.

"Esta década está quase 0,2C mais quente em comparação à anterior. Temos de ver dessa forma, comparando décadas, não anos", disse à Reuters em Londres o climatologista Peter Stott, do Centro Hadley, da Grã-Bretanha, que forneceu dados à OMM para o estudo.

O La Niña é um resfriamento natural e periódico das águas do Pacífico. Seu contrário é o fenômeno El Niño, que aquece as águas. Ambos repercutem no mundo todo.

O relatório da OMM se baseia em estatísticas e análises compiladas por serviços de meteorologia e instituições de pesquisa em seus 188 países membros.

"Extremos climáticos, inclusive inundações devastadores, secas graves e persistentes, nevascas, ondas de calor e ondas de frio foram registradas em muitas partes do mundo", disse a agência. Em muitas delas, centenas ou mesmo milhares de pessoas morreram.

Um dos mais graves desastres foi o ciclone Nargis, que matou cerca de 78 mil pessoas no começo de maio no sul de Mianmar. O Caribe teve nesta temporada 16 grandes tempestades tropicais, das quais 8 viraram furacões. Em média, são 11 tempestades por ano, sendo 6 furacões.

(Reportagem adicional de Gerard Wynn e Michael Szabo em Londres)