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HIV evoluiu rápido entre grandes grupos, diz estudo

Por Michael Kahn

25/02/2009 17h46

O vírus da Aids está se adaptando rapidamente a grandes grupos de pessoas, de modo a evitar a ativação do sistema imunológico humano, o que representa mais um desafio na busca por uma possível vacina, disseram pesquisadores na quarta-feira.

Os cientistas sabem que o vírus HIV sofre constantes mutações dentro de cada indivíduo, na busca por caminhos para atacar as células.

Mas o estudo divulgado na revista "Nature" sugere que as mudanças que ajudam o vírus a fazer isso são cada vez mais transmitidas para a população como um todo.

"O que estava previamente claro é que o vírus poderia evoluir dentro de cada pessoa contaminada, mas isso não importa realmente do ponto de vista da vacina se o vírus no nível populacional permanece o mesmo", explicou Philip Goulder, imunologista da Universidade de Oxford, que coordenou o estudo.

"A implicação é que, quando tivermos encontrado uma vacina efetiva, ela deve precisar ser mudada para acompanhar o ritmo da rápida evolução do vírus", acrescentou.

Não há cura para a Aids, e cerca de 33 milhões de pessoas estão contaminadas no planeta. Desde o começo da década de 1980, a doença já matou mais de 25 milhões de pessoas, a maior parte na África.

Os cientistas buscam vacinas que previnam a infecção ou que tornem o paciente menos propenso a transmitir a doença --a chamada vacina terapêutica.

"O processo do vírus está acontecendo diante dos nossos olhos a uma baita velocidade, e é algo que devemos levar em conta ao fazer nossas vacinas", disse Goulder.

O HIV ataca o sistema imunológico, a defesa natural do organismo. A exemplo de outros vírus, ele não consegue se replicar sozinho, e precisa sequestrar uma célula para transformá-la em fábrica de vírus.

Para isso, precisa burlar vários genes, inclusive um gene da imunidade chamado HLA.

A equipe, que incluía pesquisadores da Austrália e do Japão, analisou as sequências genéticas do HIV e versões do gene HLA conhecidas por controlar o vírus em pelo menos 2.800 pessoas.

Algumas pessoas têm uma versão mais protetora do gene. No estudo, os pesquisadores descobriram que mutações que permitem ao HIV burlar as reações imunológicas dirigidas pelo HLA eram mais comuns em pessoas com a variante protetora do gene.

Isso é um forte indício de adaptação do HIV ao sistema imunológico humano entre a população como um todo, acrescentou Goulder por telefone.

Significa que a chamada mutação de fuga está circulando em cada vez mais gente e acumulando-se na população soropositiva como um todo, disse ele.