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Análise: Ricos podem cortar mais CO2 para estimular pacto global

Por Gerard Wynn e Alister Doyle

27/08/2009 09h14

Os países industrializados podem aprofundar os cortes programados para suas emissões de gases do efeito estufa, como forma de fortalecer o tratado climático a ser aprovado pela ONU em dezembro. Analistas alertam, no entanto, que há riscos de que eles prometam mais do que podem cumprir.

Medidas como pagar pela proteção das florestas (capazes de absorver carbono) ou estimular o comércio de créditos de carbono podem ajudar países ricos, afetados pela recessão, a ampliar suas metas de cortes nas emissões até 2020, que atualmente estão apenas na faixa de 10 a 14 por cento abaixo dos níveis de 1990.

Isso está bem aquém dos 25-40 por cento que uma comissão climática da ONU propõe como sendo necessário para evitar os piores efeitos da mudança climática, inclusive secas, tempestades, ondas de calor e elevação do nível dos mares. Países em desenvolvimento, como China e Índia, defendem que as nações desenvolvidas promovam cortes de pelo menos 40 por cento.

"Se chegarmos mais perto de 20 ou 25 por cento..., incluindo (preservação de) florestas e compensações (nas emissões), então acho que estaria bastante bom", disse Mark Kenber, diretor de políticas da entidade The Climate Group, de Londres.

Mas, para passar de 14 para 25 por cento, os países desenvolvidos como um todo ainda precisariam oferecer uma redução adicional de 2 bilhões de toneladas de dióxido de carbono por ano -- o que equivale às emissões somadas de Japão e Canadá.

E há o risco de que seja difícil quantificar alguns dos cortes -- por exemplo, relativos à oferta de verbas para estimular tecnologias com baixas emissões de carbono.

EXERCÍCIOS CONTÁBEIS

"Tenho certeza de que haverá vários exercícios contábeis que podem elevar os números a partir dos níveis de hoje", disse Knut Alfsen, diretor de pesquisas do Centro para a Pesquisa Climática e Ambiental Internacional em Oslo (Cicero, na sigla em inglês).

"Todos têm uma ótima razão para não colocar algo sobre a mesa. Por enquanto, não estamos nos encaminhando para um resultado ambicioso", disse Nick Mabey, diretor da entidade de pesquisas E3G, de Londres, referindo-se à cúpula ambiental de dezembro em Copenhague.

Yvo de Boer, chefe do Secretariado de Mudança Climática da ONU, disse haver formas legítimas de ampliar os cortes.

"Veremos questões mais amplas do manejo florestal sendo tratadas? Que gases serão incluídos? Não está claro no momento até que ponto mecanismos de flexibilidade, as compensações serão aplicadas sobre a ação doméstica", afirmou.

As compensações citadas por ele dizem respeito a investimentos que poluidores podem fazer em energias limpas (eólica ou solar, por exemplo) ou na conservação de florestas, de modo a compensar as suas próprias emissões. Os mecanismos de flexibilização incluem créditos negociáveis para as emissões e investimentos climáticos nos países em desenvolvimento.

Analistas dizem que seria possível esperar metas mais ambiciosas - especialmente no caso dos EUA, que se comprometem apenas com uma volta aos níveis de 1990, ou seja, um corte de 14 por cento sobre os níveis de 2007.

A entidade norte-americana Instituto dos Recursos Mundiais (WRI) considera, por exemplo, que seria possível para os EUA reduzir suas emissões até 2020 para 17 por cento abaixo dos níveis de 1990, desde que houvesse políticas "complementares".

Uma dessas políticas seria contabilizar como redução dos EUA a entrega de verbas para a proteção de florestas tropicais. "Sempre há espaço para negociação," disse Kelly Levin, ligada ao WRI.

"Por exemplo, um país como o Japão, que tem uma meta a ser atingida apenas por ações domésticas, declarou estar aberto a discutir como sua meta aumentaria com o uso de mecanismos internacionais de redução."