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Rede de cientistas cria "guia" do DNA

Pacotão de estudos faz a análise mais completa do DNA - AFP
Pacotão de estudos faz a análise mais completa do DNA Imagem: AFP

Sharon Begley

05/09/2012 17h06Atualizada em 06/09/2012 07h27

Na maior série de descobertas sobre o DNA humano desde a realização do projeto genoma humano em 2003, 442 cientistas em laboratórios de três continentes divulgaram nesta quarta-feira (5) um pacote de 30 estudos com várias descobertas.

Elas, que foram classificadas pela revista Nature como "guia para o genoma humano", vão das questões mais genéricas (o que é um gene?) às mais práticas (que apenas 20 mudanças genéticas podem estar por trás de 17 tipos de câncer aparentemente diferentes).

Os estudos fazem parte do projeto Enciclopédia dos Elementos do DNA (Encode, na sigla em inglês), de US$ 196 milhões (quase R$ 400 milhões). Seu objetivo é dar sentido à babel produzida pelo projeto do genoma humano — a sequência das 3,2 bilhões de bases químicas ou "letras" que formam o genoma humano.

"Nós compreendemos apenas uma pequena porcentagem das letras do genoma", explica Eric Green, diretor do Instituto Nacional de Pesquisa sobre o Genoma Humano e que pagou pela maior parte do estudo.

Lista para o Homo sapiens

O Encode foi lançado em 2003 para desenvolver uma "lista de peças" completa para o Homo sapiens ao identificar e apontar a localização de todas as partes do genoma que fazem algo. "É um mapa de referência de todos os elementos funcionais no genoma humano", diz o geneticista Joseph Ecker, do Instituto Salk para Estudos Biológicos, de La Jolla, na Califórnia (EUA).

Os elementos mais bem conhecidos do genoma são os cerca de 21 mil genes que especificam quais proteínas são feitas por uma célula. O gene do receptor de dopamina produz  receptores de dopamina em células do cérebro, por exemplo, e o gene da insulina produz insulina no pâncreas.

Só cerca de 1% do genoma, no entanto, codifica proteínas e o desafio da comunidade científica agora é descobrir a função dos outros 99% — que, durante anos, foram chamados de "DNA lixo", por não terem uma função. Ao examinar esta parte esquecida, os cientistas descobriram que cerca de 80% do DNA descartado pelas pesquisas executa ao menos uma função biológica nas células.

“Por vários anos, todo mundo ficou focado apenas no 1%. Encode olha para os outros 99%”, afirma Mark Gerstein, da Universidade de Yale, em Connecticut (EUA), que liderou uma das equipes do programa. “O ‘DNA lixo’ é realmente o principal responsável pelo funcionamento dos genes.”

Os cientistas encontraram, também, quatro milhões de “interruptores” que determinam quando e onde os genes são ligados ou desligados, conforme o tipo de célula. Estas "instruções", dizem os estudos,  estão ligados a mudanças genéticas que causam de doenças cardíacas e diabetes até esclerose e distúrbios mentais. Entender, portanto, o funcionamento deste pedaço desconhecido ajuda a formar uma base genética das doenças e levar a novas terapias.