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Falta de exercício pode frear relógio biológico

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Imagem: iStock

Gretchen Reynolds

29/05/2015 06h00

O exercício pode afetar como e quando nos movimentamos, mesmo quando não estamos nos exercitando, segundo um estudo fascinante realizado com camundongos. As descobertas sugerem que, ao influenciar nossos relógios biológicos, o exercício pode ajudar nosso corpo a reconhecer os melhores momentos para nos movimentarmos e quando deveríamos ficar parados.

A maioria das pessoas já ouviu falar em ritmos circadianos. As batidas do coração, os hormônios, a fome, estado de alerta, digestão, fadiga e outras funções corporais atuam em ciclos regulares num cronograma que é previsível e sincopado, mas que muda em função das circunstâncias.

Porém provavelmente poucos percebem que a atividade física, em pessoas e na maioria dos animais, igualmente costuma seguir um amplo padrão circadiano.

De maneira mais óbvia, dormimos à noite, quase sem nos mexer, e somos ativos durante o dia.

Entretanto, também durante o dia, a atividade física geralmente mostra certos padrões, embora eles mudem perceptivelmente com a idade, apontam pesquisas recentes. De acordo com o estudo impressionante de 2009 publicado em "Proceedings of the National Academy of Sciences", cientistas pediram a jovens adultos e idosos para usarem monitores de atividade durante uma semana enquanto viviam normalmente e depois fizeram gráficos dos movimentos de cada voluntário durante 24 horas.

Os gráficos mostraram que os jovens se movimentavam bastante durante o dia, com picos e vales frequentes em suas atividades. Os padrões não eram muito consistentes; alguns dias, alguém pode se sentar e mal se mexer no começo do dia e, em outros, a pessoa pode se movimentar de manhã cedo e se aquietar depois.

Porém, concluíram os cientistas, havia em geral uma lógica interna do movimento. Se alguém ficava parado por algum tempo, começaria a se movimentar; e se alguém havia se movimentado ou se exercitado bastante, descansaria por um tempo porque, presumivelmente, o corpo ainda estava fisicamente excitado, mas depois ficaria parado.

Em essência, o corpo dos jovens parecia se lembrar e reagir ao que aquele organismo estivera fazendo, tanto ficar sentado como se movimentar, e depois calcular uma nova resposta apropriada: se movendo ou se sentando. Ao agir assim, o corpo, no entender dos pesquisadores, criava um padrão circadiano dinâmico e saudável.

Curiosamente, esses padrões dinâmicos de movimentos nos jovens eram muito semelhantes aos vistos em animais de laboratório jovens e saudáveis, disse Frank A.J.L. Scheer, professor assistente da Faculdade de Medicina de Harvard e diretor do Programa de Cronobiologia Médica do Hospital Brigham and Women's, Boston, que supervisionou o estudo, sugerindo que existem imperativos biológicos sobre os padrões de movimento mesmo para quem tem vidas modernas atreladas aos escritórios.

Todavia, as "memórias" desses padrões foram reduzidas drasticamente com a idade. No estudo de 2009, idosos mostravam menos movimento durante o dia e mais movimento aleatório à noite. Eles estavam parados quando provavelmente deviam estar se movimentando e inquietos quando deviam ficar parados. Em geral, os padrões de movimentos se tornaram mais fortuitos, disse Scheer.

Não está claro, contudo, se essas mudanças indesejadas foram causadas unicamente pelo envelhecimento ou também por outros fatores. Então, para o novo estudo, também publicado em "PNAS", Scheer e colegas, incluindo Kun Hu, de Harvard, e Johanna Meijer, da Universidade de Leiden, na Holanda, agruparam camundongos de idade variada, de jovens adultos (seis meses de idade) a quase anciãos (dois anos) e os instalaram em gaiolas equipadas com sensores infravermelhos que monitoravam continuamente a atividade física.

Também lhes deram brinquedos, pois os exercícios podem aumentar drasticamente a diferença entre atividade e tranquilidade e têm muitos efeitos no organismo, influenciando o movimento diário.

Eles deixaram os animais à vontade durante um mês.

Sem surpresas, os camundongos jovens, que correram bastante, logo desenvolveram picos e vales de atividade, com demarcações claras entre os movimentos associados ao dia e à noite.

Os animais idosos tinham padrões semelhantes, mas pouco claros.

Depois, os cientistas retiraram os brinquedos.

Em questão de dias, todos os animais começaram a mostrar padrões mais aleatórios de movimento. Eles podiam começar a correr repentinamente dentro da gaiola durante aquele que deveria ser seu período tranquilo ou a se agachar imóveis quando deveriam estar ativos.

De forma interessante, os padrões dos camundongos jovens e idosos eram muito mais parecidos do que antes.

Segundo Scheer, a descoberta sugere que o exercício afeta mais os padrões de movimentos diários do que a idade. Ao tirar o brinquedo do roedor jovem seu padrão de atividade será mais semelhante ao de um idoso.

Entretanto, assim que os pesquisadores reintroduziram os brinquedos nas gaiolas, jovens e idosos voltaram a se exercitar, recuperando os antigos padrões de movimentos saudáveis. Camundongos idosos tinham alguns picos e vales, enquanto os jovens tinham muitos.

Por definição, o exercício influencia quanta atividade alguém completa durante o dia. Porém Scheer e seus colegas pesquisadores acreditam que algo mais profundo e mais interessante também acontece com o exercício. Ele afeta o mecanismo do relógio biológico do corpo e, portanto, os ritmos circadianos, principalmente os ligados à atividade, podendo manter os padrões saudáveis mesmo com a idade.

De acordo com ele, ao incentivar a liberação de uma ampla gama de compostos bioquímicos no corpo e no cérebro, o exercício quase certamente afeta o relógio biológico e, dessa forma, os ritmos circadianos, principalmente os ligados à atividade. O exercício parece tornar o organismo mais capaz de julgar quando e quanto é preciso se movimentar ou descansar.

O estudo foi de curto prazo, envolvendo camundongos e não pessoas, e não foi pensado para identificar como o exercício pode afetar o relógio biológico, ressaltou Scheer.

Contudo, ele sugere que, entre suas muitas virtudes, o exercício melhora o ritmo de nossas vidas.