Topo

Usinas nucleares dos EUA envelhecem e cresce preocupação com energia

A usina nuclear HB Robinson começou a produzir energia no início de 1970, na Carolina do Sul, Estados Unidos  - Travis Dove/The New York Times
A usina nuclear HB Robinson começou a produzir energia no início de 1970, na Carolina do Sul, Estados Unidos Imagem: Travis Dove/The New York Times

Henry Fountain

Do New York Times

27/03/2016 06h00

A usina nuclear H.B. Robinson, na Carolina do Sul (EUA), vem produzindo eletricidade, com pequenas interrupções, desde a administração Nixon. Mas agora, seu destino está definido: ela terá que fechar em 2030, quando fará 60 anos.

O reator da Robinson é um dos mais velhos em operação nos Estados Unidos, mas outros estão chegando lá. De 2029 a 2035, três dúzias dos 99 reatores do país, que representam mais de um terço da capacidade geradora da indústria, terão que fechar quando suas licenças de operação expirarem.

Qualquer parada seria mais um golpe na energia nuclear, que fornece 19% da eletricidade do país, mas vem, nos últimos anos, competindo contra a energia solar e a eólica subsidiadas e usinas que queimam o barato gás natural.

Os defensores do setor dizem que ao eliminar fontes de energia limpa – uma reação nuclear não produz dióxido de carbono e outros gases do efeito estufa – os fechamentos podem afetar a habilidade do governo de cumprir sua promessa, feita nas discussões sobre o clima em Paris no ano passado, para reduzir as emissões.

E para continuar a produzir o que o país precisa, será necessário construir uma nova capacidade geradora para repor a que se perderá.

“Algumas dessas usinas vão ser aposentadas. Isso significa que precisaremos atender essa demanda de alguma maneira”, afirma Stephen E. Kuczynski, presidente-executivo da subsidiária nuclear Southern Co.

Dado o ritmo algumas vezes extremamente lento dos projetos, licenciamentos e construções da indústria nuclear, os anos 2030 não estão tão longe. Operadores das usinas podem conseguir algum tempo buscando extensões das licenças, por mais 20 anos, na Comissão de Regulamentação Nuclear, ou construindo mais reatores grandes como os quatro que estão sendo feitos.

A indústria e o Departamento de Energia também têm depositado suas esperanças no desenvolvimento de projetos de reatores menos convencionais mais seguros e baratos para construir e operar. Ainda assim não está claro se novos projetos podem chegar ao mercado a tempo de fazer diferença na capacidade de geração perdida com as usinas fechadas.

País terá uma opção com custo baixo?

Parte da indústria está otimista, incluindo a Southern, que em janeiro anunciou que receberá até US$ 40 milhões do Departamento de Energia para desenvolver um reator avançado que utiliza sal fundido para a refrigeração ao invés de água, comum em todos os projetos hoje.

“Nossa meta é: podemos seguir com o processo e ter uma opção comercial até 2030?”, diz Kuczynski. Para fazer isso, segundo ele e outras pessoas, os ritmos do processo de design e de revisão da Comissão de Regulamentação Nuclear (NRC, na sigla em inglês) precisam ser acelerados.

Mas algumas pessoas afirmam que os cronogramas mais curtos não são realistas por causa das preocupações com segurança e outras questões e da necessidade de testar os novos projetos antes de tentar a aprovação da comissão.

“É um processo de 25 anos, não importa o que se faça”, explica Michael McGough, diretor comercial da NuScale Power, que está na frente das outras empresas no trabalho com reatores menos convencionais. O projeto da NuScale, chamado pequeno reator modular, usa água para a refrigeração, mas as unidades são muito menores do que os reatores atuais e têm recursos mais avançados de segurança. Eles poderiam em grande parte ser construídos em uma fábrica, economizando dinheiro, e seria possível instalar até 12 deles em um mesmo local.

McGough sabe tudo sobre cronogramas longos; o projeto da NuScale está em desenvolvimento desde o ano 2000. Já conseguiu um potencial primeiro cliente, o Sistema Associado Municipal de Energia do Utah, ou Uamps (na sigla em inglês), que opera na Intermountain West, e espera ter 12 dos pequenos reatores funcionando no local em Idaho até o meio dos anos 2020. “Para mim parece improvável ver novos projetos desenvolvidos ou licenciados em um tempo muito menor do que o que temos pela frente”, diz McGough.

A NuScale vem testando seu projeto há 13 anos, usando um protótipo não-nuclear. No final deste ano, planeja submeter um requerimento de 11 mil páginas para o NRC a fim de certificar seu projeto. Depois, a comissão tem até 40 meses para examinar os documentos.

O processo de certificação, e um pedido de aprovação posterior feito pela Uamps para a construção e a licença de operação, podem atrasar se a NRC pedir mais informações. Mas, mesmo se tudo correr bem, a usina vai produzir apenas cerca de metade da eletricidade dos muitos reatores existentes. Seriam necessárias cerca de 50 dessas usinas de 12 reatores para repor a capacidade de geração que pode ser perdida por volta de 2035.

Muitos na indústria esperam que uma ampliação do prazo das licenças dos reatores que já existem impedirá pelo menos alguns fechamentos. As usinas nucleares foram licenciadas originalmente por 40 anos, mas quase todas pediram e receberam aumentos de 20 anos no tempo de funcionamento.

Aumentar a vida útil das usinas

A comissão de regulamentação começou a pesquisar o que seria exigido para ampliar a vida das usinas para 80 anos. “Estamos perguntando questões muito básicas, como por quanto tempo o vaso do reator permanece aceitável uma vez que está sendo bombardeado por nêutrons. A informação que temos até agora é que essas são questões que não interrompem os trabalhos”, diz o porta-voz Scott Burnell.

Até agora um operador anunciou planos para buscar esse tipo de extensão para dois reatores previstos para fechar no começo dos anos 2030, mas um pedido e sua possível aprovação ainda estão a anos de distância. A Duke Energy, dona da usina Robinson na Carolina do Sul, diz que está avaliando se deve ou não buscar a ampliação do prazo.

Como a economia das usinas nucleares é relativamente ruim, no entanto, mesmo que uma delas pudesse ser licenciada para funcionar por até 80 anos, a questão permanece se financeiramente seria válido usá-la, especialmente se exigir reformas muito caras. Os céticos citam duas usinas nos Estados Unidos que foram fechadas por razões econômicas desde 2012, depois que suas licenças foram ampliadas para 60 anos.

Incertezas econômicas parecidas cercam a mais nova geração de reatores, os Westinghouse AP1000, projeto similar em muitos aspectos ao de unidades já existentes, mas com melhorias de segurança e itens que cortam cursos. Quatro deles estão sendo construídos nos Estados Unidos, e tem havido grandes atrasos nas obras e aumento de custos.

Mas Kuczynski, da Southern, que constrói dois reatores na Geórgia, diz que a indústria está aprendendo pela experiência, o que diminuiria o custo de usinas posteriores. “Estamos fazendo a primeira de uma série”, explica, e todos os pedidos futuros, “serão pechinchas fantásticas”.

Outras pessoas não têm tanta certeza de que a indústria vai correr para construir mais. “O que acontecerá no final com as quatro AP1000 será muito importante”, avalia Matthew McKinzie, cientista sênior do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais. “Se não valer a pena economicamente estender a vida das usinas para 80 anos, o que isso diz sobre as contas de uma usina nova?”

Segurança é crítica

Críticos da energia nuclear explicam que novos projetos, como reatores que usam sais fundidos, criam novas questões, especialmente em matéria de segurança, que levarão muito tempo para ser avaliadas.

“Um regulamentador não pode aceitar estudos dizendo que um reator é muito seguro. Ele precisa de documentação, dados experimentais”, afirma Edwin Lyman, da Union of Concerned Scientists.

“A indústria e o Departamento de Energia alimentam essa fantasia de que você pode ter um processo de licenciamento geral de projetos neutros”, diz ele.

Mas Ray Rothrock, capitalista de risco que investiu em duas empresas que estão trabalhando em projetos avançados, acredita que o tempo está acabando para melhorar o processo.

“Temos provavelmente uma janela de cinco a dez anos. Se não resolvermos esse problema na próxima administração presidencial, perderemos a chance”, afirma.