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André Santana

Bahia: Vale do Capão oferece turismo ambiental, sem aglomeração

Cachoeira da Angélica: renovação das energias, em contato com a natureza, predomina na Chapada Diamantina - André Santana
Cachoeira da Angélica: renovação das energias, em contato com a natureza, predomina na Chapada Diamantina Imagem: André Santana

Colunista do UOL

02/01/2021 18h15

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Bem diferente das imagens de praias lotadas e festas com aglomeração que circularam por esses dias, a Bahia possui destinos de viagem que proporcionam lazer, descanso e isolamento tão importantes neste momento.

Depois de um ano de necessária permanência dentro de casa, a possibilidade de iniciar o novo ano em contato com a natureza, em meio a lindas e amplas paisagens naturais, atraiu um grande número de visitantes à Chapada Diamantina, na Bahia, neste Réveillon. Em especial, ao Vale do Capão, também chamado de Caeté-Açu,

O pequeno povoado de cerca de 3 mil moradores, pertencente ao município de Palmeiras, a 460 km de Salvador e 70 km de Lençóis, possui um território privilegiado, com diversas trilhas que levam a morros, rios, cachoeiras, grutas e quedas d'águas. Com a continuidade da pandemia e o aumento dos casos em todo o país, o Capão oferece opções de lazer sem aglomeração.

O local também mantém o clima místico, que possibilita práticas de meditação e retiros espirituais.

É o caminho certo para quem busca tranquilidade e renovação das energias e esperanças neste novo ciclo que começa com a permanência de velhos problemas como, por exemplo, o mandato de Bolsonaro que só termina no final de 2022.

Até lá, os brasileiros precisam de muita paciência e resistência, e respirar o ar puro do Vale do Capão, a 860 metros acima do nível do mar, pode ser um bom alento.

Morrão na Chapada Diamantina - André Santana - André Santana
O Morrão pode ser visto de diversas parte do Parque Nacional da Chapada Diamantina
Imagem: André Santana

Parque Nacional da Chapada Diamantina reabre ao turismo

O retorno do turismo no local ocorreu no mês de dezembro, com a reabertura dos principais pontos de visitação e a exigência de protocolos de segurança, como o uso de máscaras mesmo nas trilhas e limitação de grupos de até 10 pessoas.

A vila oferece muitas possibilidades de acomodação, desde áreas de camping, casas para aluguel e pousadas confortáveis. Para alimentação, os visitantes dispõem de boas massas e pratos vegetarianos, incluindo pizzas de berinjela, tomate seco, molho pesto e outras delícias.

Há opções de passeios para todos os gostos, inclusive para aqueles que não querem realizar grandes caminhadas ou se aventurar em práticas de aventura. A cachoeira no povoado de Conceição dos Gatos e a lagoa dos Patos possuem trilhas curtas, de baixa dificuldade e alta satisfação. Assim também é a Cachoeira do Riachinho, que oferece o melhor pôr do sol do Vale, mas que ainda se encontra interditada.

Restaurante de Maria e Ivo em Conceição dos Gatos - André Santana - André Santana
Em Conceição dos Gatos, no restaurante de Dona Maria e Seu Ivo, é possível saborear moqueca de jaca e galinha caipira.
Imagem: André Santana

Com uma caminhada um pouco mais longa, cerca de 40 minutos, estão as cachoeiras de Rodas, em direção ao rio Preto, e a cachoeira da Purificação, tendo no caminho a cachoeira Angélicas, um alívio para quem não completa todo o trajeto. O acesso é pela Vila do Bomba, onde é possível comer pastel de palmito de jaca, acompanhado de caldo de cana.

Na rua principal da vila, é possível encontrar produtos esotéricos, além de massagens e consultas ayuvérdicas e outras terapias holísticas.

Também há um coreto para apresentação de artistas locais. Nos primeiros dias do ano, o centro da vila reuniu jovens de diversas partes do Brasil e muitas nacionalidades, despreocupados com os riscos da pandemia e com a possibilidade de tirar o sossego dos moradores, até então livres da contaminação. Os comerciantes estão atentos e exigem o uso de máscaras para entrar nos estabelecimentos.

Casa de Dona Netinha e Seu Dó - André Santana - André Santana
No caminho para a cachoeira da Purificação, parada para um lanche na casa de Dona Eluzinete (Netinha) e Seu Agripino (Dó)
Imagem: André Santana

Maior queda d'água livre do Brasil

Entre os principais passeios na região está a trilha de 12 km que leva à cachoeira da Fumaça, uma queda d'água de 380 metros livres, a maior do Brasil. Essa é a opção dos visitantes mais dispostos a enfrentar as quatro horas de caminhada (ida e volta), com uma hora de subidas em meio à vegetação e mirantes que possibilitam a visão privilegiada do Parque Nacional da Chapada Diamantina. O conjunto de rochas que se vislumbra é de tirar o fôlego não só pelo esforço da subida, e sim pela exuberante beleza.

O Morro do Pai Inácio pertence ao município de Palmeiras e integra o Parque Nacional da Chapada Diamantina

Os visitantes em adequado condicionamento físico podem optar pela trilha de 36 km que percorre a cachoeira da Fumaça por baixo. São necessários três dias, com acampamento na mata. Nas duas opções é recomendado a companhia de um guia local, que conheça o trajeto, suas dificuldades, além de estarem treinados para atendimentos de primeiros socorros.

Em geral, para todas as trilhas é necessário buscar informações prévias, pois há pouca sinalização nos locais.

A capacitação dos guias é feita pela Associação dos Condutores de Visitantes do Vale do Capão (ACV-VC), uma organização formada há 20 anos e que conta hoje com 46 profissionais credenciados e devidamente preparados para acompanhar os visitantes nas trilhas.

Além de realizarem ações de educação ambiental e de preservação da natureza, os associados à ACV-VC são os principais responsáveis por operações de resgates no Vale do Capão.

Cachoeira Conceição dos Gatos - André Santana  - André Santana
Na chegada ao Vale do Capão, vale um banho refrescante em Conceição dos Gatos
Imagem: André Santana

Com a economia dependente quase exclusivamente do turismo, os moradores da vila viveram momentos de muita dificuldade ao longo do ano, com a interrupção dos passeios turísticos. Estima-se que mais de 20 mil pessoas visitam o Vale do Capão anualmente.

Para garantir renda, os moradores buscaram outras ocupações neste período, como serviços de construção, pintura e jardinagem. Os guias também contaram com o apoio da ACV-VC que realizou uma campanha para distribuição de cestas básicas a seus associados.

Vida alternativa não é utopia

A filosofia dos moradores do Vale do Capão pode ser entendida a partir da família formada pelo argentino Diego Olarán, e a baiana Vilma Ribeiro de Oliveira, e os seis filhos do casal. Eles são proprietários do Galpão, o café da manhã mais concorrido da vila, ponto de encontro para quem busca se abastecer para as trilhas.

O casal se conheceu em Trancoso, sul da Bahia. Eram artesãos e mochileiros e chegaram ao Vale do Capão há 28 anos, quando o local deixava de ser uma vila de garimpeiros e de agricultores para atrair a atenção de viajantes, aventureiros e místicos, chamados de forma generalizada de "alternativos".

Eles ajudaram a criar a Comissão de Meio Ambiente, uma das primeiras associações do Vale do Capão, responsável por criar projetos ambientais, como uma horta comunitária.

Diego conta que a casa sempre teve uma mesa farta por conta das crianças, com muitas frutas e as delícias preparadas pela esposa. Naturalmente, passaram a oferecer aos visitantes e a agradar aos paladares. Atualmente, os filhos trabalham no cuidadoso preparo e atendimento no restaurante que oferece sucos e sanduíches naturais, massas caseiras e uma lasanha vegetariana, carro-chefe do local, que é cercado de vegetação e do qual se tem a visão dos morros que contornam o Vale do Capão.

Restaurante Galpão no Vale do Capão - Cândida Moraes - Cândida Moraes
Angelottis de castanha e ricota é uma das receitas de Vilma Baiana, do restaurante Galpão, no Vale do Capão
Imagem: Cândida Moraes

Dois dos filhos, Sumé e Guirá, além de ajudarem os pais no restaurante, atuam como guias de turismo, integrantes da ACV-VC. Guirá é instrutor de parapente e divulgador da prática do Hike & Fly, quando os voos são associados a caminhadas por longas trilhas. A modalidade exige equipamentos mais compactos e muito preparo físico dos praticantes.

Durante os meses de turismo suspenso, Guirá viajou para outras cidades para desenvolver suas atividades, somente retornando agora, com a volta dos turistas ao povoado.

A motivação maior para a reabertura do turismo no Vale do Capão é a crença de que a maioria dos visitantes que chegam à vila compartilham valores locais de solidariedade, respeito ao meio ambiente e autocuidado. Conscientização necessária para que desfrutem das belezas locais sem promover aglomeração ou descuidar das normas de proteção contra a pandemia.

Então, a dica é colocar na mochila máscaras, álcool em gel, tênis, protetor solar e muita disposição para esse íntimo contato com a natureza, em busca de tranquilidade e boas vibrações.