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Bolsonaro está outra vez em campanha, na certeza de que o pior já passou

Bolsonaro está outra vez em campanha, na certeza de que o pior já passou - Adriano Machado
Bolsonaro está outra vez em campanha, na certeza de que o pior já passou Imagem: Adriano Machado

Colunista do UOL

27/06/2020 16h28

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Depois de "inaugurar" na sexta-feira um trecho da obra de transposição do rio São Francisco, na divisa de Pernambuco com o Ceará, da qual seu governo só fez 1%, Jair Bolsonaro saiu cedo de Brasília neste sábado, para mais uma "missão", como ele chama suas viagens, já em campanha para 2022, agora na certeza de que o pior já passou, seus problemas acabaram.

Na nova fase "Jairzinho paz e amor", tudo beleza, talkei?, o presidente foi ao Triangulo Mineiro para uma rápida aparição numa "agenda particular", segundo o Palácio do Planalto.

Pousou primeiro de helicóptero numa base da Polícia Rodoviária Federal, na altura do km 43 a BR-050, em Araguari, onde ficou no acostamento, acenando para caminhoneiros, pegou crianças no colo e tirou fotos com apoiadores, como faz qualquer candidato em campanha, tudo filmado e divulgado pela equipe presidencial nas suas redes sociais, com música apoteótica ao fundo. .

De lá, seguiu para o 2º Batalhão Ferroviário Mauá, próximo ao Centro de Instrução de Engenharia de Construção do Exército (CIECnst).

Cantou o Hino Nacional, saudou os militares e depois se misturou com os moradores, que o aguardavam do lado de fora do quartel, acenando sem parar. Estava comemorando alguma coisa. Tudo sem máscara, muito à vontade, correndo para os abraços.

Deve ser por causa da vitória na Justiça carioca do filho Flávio, o 01, que escapou das investigações sobre as "rachadinhas" e as milícias na primeira instância no Ministério Público, e foi para o Órgão Especial do Tribunal de Justiça, o mesmo que nunca viu nada de errado em Sergio Cabral, onde vai começar tudo de novo, sem prazo para acabar.

Bolsonaro não quer mais confronto com os outros Poderes. Envia sinais de fumaça branca para todo lado, e só pensa em sua campanha para a reeleição em 2022, agora nos braços do Centrão, do mercado mais trambiqueiro e da mídia amiga da rede bolsonarista de rádio e televisão.

Nem autogolpe, nem impeachment: a semana termina para Bolsonaro em céu de brigadeiro, como se a pandemia já tivesse acabado, assim como os vários processos contra o presidente que correm nos tribunais superiores.

Editoriais do Estadão e do Globo já saudaram seu novo figurino menos belicoso, como se, de uma hora para outra, Bolsonaro tivesse se transfigurado num Gandhi tropical.

Ninguém nem reparou num grupo de cerca de 15 pessoas que fez um ato contra o presidente no gramado da Esplanada dos Ministérios.

Enquanto a boiada bolsonarista passa, a oposição continua promovendo simpósios, debates, saraus, lives e "comícios" virtuais, para discutir o que fazer com Bolsonaro, que nem liga para nada disso.

Vivemos num mundo de faz de conta, em que a realidade trágica da pandemia, da fome e do desemprego parece acontecer em outro país, longe daqui. Não é problema do governo.

Para Bolsonaro, o mais importante é que ele foi acompanhado nesta viagem pelo pastor Wilbert Golden Batista, o deputado federal Cabo Junio Amaral e o diretor-geral da Abin, delegado Alexandre Ramagem, além do ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, que é o que realmente importa para ele, a aliança miliciano-militar-policial-evangélica que o levou ao poder e nele mantém, com o beneplácito da elite brasileira.

Com essa chuva, acho que domingo não vai ter manifestação nenhuma, nem contra nem a favor. As crises não acabaram em pizza, mas numa boa macarronada.

Bolsonaro continua no comando do cardápio nacional.

Vida que segue.

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