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Perda do medo e estelionato eleitoral: hospitais estão à beira do colapso

Praias no Rio de Janeiro ficam lotadas: o prefeito Marcelo Crivella liberou geral, mas mesmo assim perdeu a eleição  - GILVAN DE SOUZA/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO
Praias no Rio de Janeiro ficam lotadas: o prefeito Marcelo Crivella liberou geral, mas mesmo assim perdeu a eleição Imagem: GILVAN DE SOUZA/AGÊNCIA O DIA/AGÊNCIA O DIA/ESTADÃO CONTEÚDO

Colunista do UOL

02/12/2020 19h09

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O povo perdeu o medo da covid-19 e os governantes relaxaram, com medo de desagradar os eleitores com novas restrições. A junção desses dois fatores ameaça levar hospitais públicos e privados ao colapso.

A nova onda da pandemia de coronavírus não veio de um dia para outro, com uma eleição no meio. No dia 20 de novembro já se sabia da gravidade da situação.

Em carta aberta às autoridades públicas sobre o repique ou a chegada de uma segunda onda, com o rápido crescimento de casos e óbitos da doença, a Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) já alertava:

"O quadro verificado pode, em pouco tempo, levar a uma situação pior do que já vivemos até aqui: o epicentro pode ser o Brasil. Tanto nos hospitais públicos quanto nos privados, as taxas de ocupação estão aumentando e chegando em alguns níveis acima de 90%, o que indica que o sistema de saúde pode entrar em colapso rapidamente e o crescimento de óbitos ser maior ainda em função da falta de assistência".

No Rio, só 40% dos óbitos por covid-19 são registrados nas UTIs. Os outros morrem em casa.

A previsão se confirmou assim que fecharam as urnas. Nota técnica divulgada hoje pelo Monitora Covid-19, grupo de estudos da Fiocruz, afirma que a rede pública de saúde da cidade do Rio "voltou a apresentar sinais de colapso".

Carnaval carioca

Na terça-feira, segundo o Globo, 168 pessoas aguardavam por um leito de UTI na região metropolitana. A mesma situação se repete na rede privada, onde 98% dos leitos de terapia intensiva da cidade do Rio estão ocupados.

Nos dias que antecederam as eleições, o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, candidato à reeleição, afundando nas pesquisas, afrouxou geral, liberando praias e botecos numa grande farra, que agora está apresentando as contas.

Há várias semanas, o Rio já vivia um clima de carnaval, como se não houvesse amanhã, na ausência do poder público, só preocupado com a campanha eleitoral. Não adiantou nada. Crivella foi rejeitado por dois em cada três eleitores cariocas.

Em São Paulo, o adiamento de medidas mais restritivas, diante do aumento dos casos de internação, com o governador João Doria garantindo que estava tudo sob controle, ajudou a garantir a reeleição de Bruno Covas, que também descartou a necessidade de medidas mais restritivas.

Nunca se saberá quantas vidas foram perdidas e quantas pessoas foram contaminadas durante esta trégua eleitoral.

Falso normal

Pois hoje, todo o estado, incluindo a capital, que antes da eleição tinha passado para a fase verde do liberou geral, voltou para a fase amarela, com novas normas restritivas para o funcionamento do comércio que, de resto, poucos cumprem, porque simplesmente não há como fiscalizar.

Enquanto o mundo se prepara para o início da vacinação ainda este ano, em Brasília se sucedem as reuniões sem fim de técnicos, militares e burocratas no Ministério da Saúde e na Anvisa, sem que se providenciem sequer as milhões de seringas necessárias para aplicar a imunização.

Nesse ritmo, é capaz de eu chegar aos 75 anos, a idade estabelecida para os grupos prioritários, antes que a Anvisa libere as vacinas.

O negacionismo oficial, que até hoje se recusa a aceitar a gravidade da pandemia e a necessidade de vacinação urgente de toda a população, fez com que em outubro apenas 12 em cada 100 brasileiros ficassem em isolamento absoluto no mês de outubro, segundo a Folha.

Os números divulgados pelo IBGE mostram que, para a maioria da população, a pandemia já acabou e é possível voltar a ter uma vida normal. Não é.

Se não houver leitos, não vai adiantar plano de saúde caro

A dura realidade dos hospitais superlotados e dos profissionais de saúde exaustos indicam que, com a chegada das festas de fim de ano e do verão nas praias, a tendência é aumentar o número de contaminados, que já passa de 6,4 milhões, e de óbitos, na casa dos 175 mil, ou três Maracanãs lotados.

Nesta hora, não basta ter um belo e caro plano de saúde, com direito a Sírio Libanês e Albert Einstein, se simplesmente não haverá mais leitos livres.

Pode ser que só então caia a ficha dos que debocham de quem ainda usa máscara e procura manter o distanciamento social.

O aumento dos casos de contaminação, que subiram 28,6% da média móvel das últimas duas semanas, atingiu desta vez com mais força as classes média e alta, principalmente os jovens, nas baladas de fim de semana.

Cuidado, moçada, a vida é uma só.

Vida que segue.