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Balaio do Kotscho

Só a vacina salva, mas quem pode nos salvar desse governo genocida?

Jair Bolsonaro, diante da tragédia de Manaus: "Nós fizemos a nossa parte". De fato, só temos cloroquina para (não) nos salvar da covid-19. Até o oxigênio acabou, e veja só, em plena Amazônia - Alan Santos/PR
Jair Bolsonaro, diante da tragédia de Manaus: "Nós fizemos a nossa parte". De fato, só temos cloroquina para (não) nos salvar da covid-19. Até o oxigênio acabou, e veja só, em plena Amazônia Imagem: Alan Santos/PR

Colunista do UOL

15/01/2021 14h33

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Sim, não há outro nome: quem ordena ou é responsável pelo extermínio de muitas pessoas em pouco tempo é um genocida, segundo o Dicionário Online de Português.

E quem é o principal responsável pelas mortes em série nas casas e hospitais de Manaus por falta de oxigênio e respiradores?

"Já tô num tal ponto que prefiro que o coronavírus faça um pronunciamento explicando como poderemos nos salvar de Bolsonaro" (mensagem que recebi logo cedo hoje no WhatsApp).

Em seguida, entrou uma convocação em nome de #Brasilsufocado:

"Sem oxigênio, sem vacina, sem governo - Panelaço - Sexta 15.01 - 20h30".

Panelaços e notas de repúdio, como sabemos, não são capazes de nos livrar do mal maior na pandemia que é esse desgoverno do capitão Bolsonaro e do seu cúmplice Pazuello, que a cada dia aumentam o desespero do povo brasileiro.

Nas gavetas da Câmara

Com o atraso proposital para o início da vacinação e o aumento nos casos de mortes e contaminações, batendo recordes diários, brasileiros continuam impedidos de ir às ruas para defender os seus direitos, única forma de obrigar a Câmara a iniciar um processo de impeachment.

Se você clicar no Google vai encontrar o recorde de 24.100.000 de citações para a expressão "impeachment Bolsonaro"

Segundo a Agência Pública, ao todo 1.459 pessoas e organizações já assinaram pedidos de impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Agora são 56 os pedidos à espera do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

Motivos não faltam e a cada dia se multiplicam, mas os donos do poder se preocupam apenas com as eleições para as novas direções da Câmara e do Senado.

Tratamento precoce sem eficácia. É o que tem para hoje

"Sem oxigênio e com disparada de casos, Manaus mergulha no caos" (manchete da Folha de S.Paulo desta sexta-feira).

"Os hospitais viraram câmaras de asfixia. Há informações de que uma ala inteira de pacientes morreu sem ar" (Jesen Orellana, da Fiocruz Amazônia).

E o que tem a dizer o Exmo. Sr. Presidente da República Jair Bolsonaro sobre essa tragédia amazônica há muito anunciada?

"Problema em Manaus? Terrível o problema lá. Agora nós fizemos a nossa parte, com recursos, meios. O ministro da Saúde esteve lá na segunda-feira, providenciou oxigênio e começou o tratamento precoce, que alguns criticam ainda".

Que nome eu dou para isso?

Antes o rotundo general Pazuello, interventor no Ministério da Saúde, não tivesse ido a Manaus, porque de lá para cá a situação, que já era catastrófica, piorou mais ainda, com as pessoas morrendo em suas casas, sem vagas nos hospitais em colapso.

Só o tal de "tratamento precoce" de Bolsonaro e Pazuello, com cloroquina e outras crendices, que eles obrigaram a Secretaria Municipal de Saúde de Manaus a receitar aos pacientes, já seria suficiente para processar os dois por crime de responsabilidade ao colocar a vida das pessoas em risco sem tratamento adequado.

Isso não deve ser chamado de genocídio?

Na Operação Tabajara dos trapalhões Bolsonaro & Pazuello, agora um avião adesivado pelo governo está parado no Recife, esperando ordens para buscar vacinas chinesas na Índia, que ainda não foram liberadas pelo governo, e o oxigênio virá da vizinha Venezuela, tão esculachada pelo chanceler brasileiro, o terraplanista Ernesto Araújo.

Enquanto isso, no mundo real...

Idosos, crianças e mulheres grávidas, contaminados em Manaus e sem condições de tratamento nos hospitais locais, estão sendo transferidos para hospitais de outros estados em aviões da FAB numa operação de emergência.

Esse é o resultado do negacionismo federal, que estimula aglomerações e a reabertura do comércio, e fica discutindo se a vacinação deve ser obrigatória ou não, sem ter até agora comprado vacinas em número suficiente para imunizar a população. Isso não é uma atitude genocida?

Antes de terminar de escrever esta coluna, recebi uma mensagem do amigo escritor Marcelo Rubens Paiva, que traduz meu sentimento nesta hora de profunda angústia e vergonha.

"Em 60 anos de vida, nunca foi tão desanimador ser brasileiro. Acho que nunca mais vou viajar para fora, para não ter que encarar o ódio da humanidade contra nós, quando antes brilhavam os olhos pelo nosso futebol, música, arte e natureza, ao informarmos de onde viemos".

Só a vacina salva, mas o governo genocida insiste na cloroquina e lava as mãos.

Sim, todos vamos morrer um dia, como diz o capitão, mas não precisamos ter pressa.

Até quando?

Vida que segue.