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Chico Alves

"Não fui pedir o retorno às aulas", diz Tabata sobre reunião com ministro

A deputada Tabata Amaral (PDT-SP)  - Cleia Viana/Câmara dos Deputados
A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Colunista do UOL

17/09/2020 13h34

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Email inválido

Relatora da comissão externa da Câmara dos Deputados para acompanhamento do Ministério da Educação (MEC), a deputada Tabata Amaral (PDT-SP) desde o ano passado analisa o que a pasta faz e deixa de fazer. As sugestões produzidas nunca foram entregues aos ministros anteriores. "Não estiveram abertos ao diálogo", diz ela. Por isso, esses documentos eram enviados por email ou no máximo ao secretário executivo.

Ontem, conseguiu ser recebida pelo ministro Milton Ribeiro. Porém, a reunião, da qual participou também o deputado Felipe Rigoni (PSB-ES), virou motivo de críticas nas redes sociais. Circulou a informação de que Tabata foi pedir ao ministro a retomada das aulas presenciais, interrompidas por causa da pandemia. "Não fui pedir o retorno às aulas", disse ela à coluna.

A deputada está preocupada com as pesquisas que mostram que muitos alunos podem nem retomar o ensino médio quando as escolas reabrirem, o que vai aumentar ainda mais a desigualdade entre os estudantes. "Não dá pra falar 'vamos cancelar o ano letivo', o que, por sinal, é muito conveniente para os políticos de forma geral", acredita.

Sobre os ataques nas redes sociais, tanto a ela, por parte da esquerda, e ao ministro Milton Ribeiro, por parte dos bolsonaristas, Tabata diz encarar com tristeza. "Isso demonstra que as pessoas não estão nem aí para a educação, porque as pessoas não querem entender o que de fato está acontecendo, debater com dados", lamenta.

UOL - Qual o tema da reunião com o ministro da Educação?

Tabata Amaral - Fizemos a reunião para falar das sugestões que estamos produzindo há mais de um ano e para debater alguns temas que estão nos angustiando. Falamos sobre a questão da regulamentação do Fundeb, desse contexto em que o MEC esteve ausente da discussão sobre o Fundeb, falamos sobre a questão da conectividade e o tanto de alunos que não estão recebendo nenhuma atividade da escola e uma série de temas.

Não fui pedir o retorno às aulas. Trabalho com educação há muitos anos e sei que essa não é uma competência do MEC. Sei a responsabilidade e a falta de senso que seria uma coisa assim. Quem tem que decidir sobre o retorno às aulas são os municípios e os estados, que são soberanos quando a gente fala sobre educação básica.

Uma coisa que a gente falou para o ministro que serve para esse momento de pandemia é que a desigualdade educacional está se aprofundando absurdamente. Mais ou menos um terço dos jovens que participaram de uma pesquisa do Conselho Nacional da Juventude, da Unesco e de várias instituições, disseram que consideram abandonar o ensino médio, que se desmotivaram com a pandemia.

Qual é, na sua opinião, o papel do Ministério da Educação diante desse problema?

Nós temos quase 6 mil redes municipais e 27 redes estaduais, o MEC precisa assumir o seu papel de coordenador, de apoiador daquelas redes mais vulneráveis. Para que a gente não deixe os alunos para trás.

Tem redes que não conseguiram se articular para entregar atividades, algum tipo de educação por meio de rádio, de TV, para conectar estudantes e professores. Se o MEC não as apoia, fica muito difícil. Estou muito preocupada com a situação especialmente dos municípios.

Quando a sra. acha que deve acontecer a retomada das aulas?

A gente reforçou que a retomada é extremamente complexa. É preciso olhar as melhores experiências lá fora, criar protocolos que são caros, que são custosos para ser implementados, difíceis de se fazer. Antes de retomar, vai ter que estar preparado para fazer acolhimento, para ir atrás de cada aluno.

Não dá para falar "vamos cancelar o ano letivo", o que, por sinal, é muito conveniente para os políticos de forma geral. Afinal de contas temos eleições esse ano, ninguém quer encarar uma tarefa complexa como essa, mas é extremamente irresponsável com esses estudantes.

Se a gente não começar essa preparação desde já, vamos chegar na metade do ano que vem tendo perdido metade de uma geração inteira. E vai estar todo mundo de boa. Porque as pessoas não estão preocupadas com isso.

Como foi a reunião?

Entreguei um ofício para o ministro que veio de uma iniciativa minha. Fiz uma reunião aberta pelo Zoom, fiz convite amplo pelas minhas redes sociais. A gente debateu alguns desses temas e estavam estudantes, professores, responsáveis, comunidade escolar como um todo. Estava todo mundo angustiado.

Alguns achavam que as aulas deveriam voltar, outros achavam que as aulas não deveriam voltar, mas todos concordavam que muitas coisas deveriam ser feitas antes do retorno às aulas. Foram essas sugestões que eu aproveitei a oportunidade ontem para entregar para o ministro.

Qual a sua avaliação sobre o trabalho do ministro da Educação até agora?

É muito difícil de avaliar a gestão de um ministro que acabou de chegar. Mas ele se mostrou extremamente aberto ao diálogo, o que é uma diferença profunda em comparação com os ministros que ocuparam esse cargo em um ano e meio. Isso me dá um pouco de esperança.

Depois da reunião, a sra. foi criticada pela esquerda e o ministro foi criticado pela direita. Como encara esses comentários?

As críticas dos dois lados me entristecem, porque isso só mostra como essas críticas pequenas, mentirosas, tomam muito mais da cabeça das pessoas, de seu tempo, de seus esforços, do que o problema profundo da educação que a gente está vivendo.

Isso atrapalha, porque a gente perde tempo, porque isso demonstra que as pessoas não estão nem aí para a educação, porque as pessoas não querem entender o que de fato está acontecendo, debater com dados. Mas, infelizmente, é o que está posto nesse momento de grande polarização.