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Chico Alves

Escolha para a Suprema Corte mais uma vez aproxima Trump de Bolsonaro

Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, em reunião de 2019 em Washington - Mark Wilson/Getty Images
Os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump, em reunião de 2019 em Washington Imagem: Mark Wilson/Getty Images

Colunista do UOL

26/09/2020 19h57

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Além da bajulação que dedica a Donald Trump, o presidente Jair Bolsonaro muitas vezes força a barra para aumentar as semelhanças com o homem mais poderoso dos Estados Unidos. Bolsonaro copia Trump nas crítcas à Venezuela, nos ataques à OMS, nas acusações à China, no negacionismo da crise ambiental e até na exaltação das propriedades não comprovadas da cloroquina.

Nesse roteiro de imitação mal-acabada do chefão da Casa Branca, quis o destino que Bolsonaro tivesse outra grande oportunidade de mostrar-se como avatar de Trump no Hemisfério Sul.

Nos Estados Unidos, a morte da juíza progressista Ruth Bader Ginsburg abriu para o presidente a oportunidade de convocar para a Suprema Corte um nome conservador, mais afeito à sua ideologia.

Assim, Amy Coney Barrett foi anunciada hoje como a escolhida. Falta a confirmação no Senado.

Como disse Trump, sem sequer se dar ao trabalho de esconder seus objetivos casuísticos, ele não abriria mão de fazer essa escolha — como pediu Ginsburg pouco antes de morrer — porque a eleição presidencial desse ano pode ser decidida na Suprema Corte.

A indicação de Barrett muda a composição do mais importante tribunal americano, que a partir de sua posse vai ampliar a maioria conservadora.

Por aqui, o ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal, informou ontem que vai antecipar a aposentadoria para outubro. Bolsonaro, então, já está em processo de escolha de um substituto que combine com sua ideologia.

Não há nesse momento nenhuma eleição presidencial no Brasil para ser resolvida pelo STF, mas são muitas as pautas de interesse de Bolsonaro prestes a serem julgadas, desde temas ideológicos a processos que envolvem seus três filhos.

Até onde a vista alcança, o ministro Jorge Oliveira, da Secretaria-Geral da Presidência, é o favorito. Mas André Mendonça, o ministro da Justiça, e Augusto Aras, o Procurador-Geral da República, também têm chances.

Diferente da corte americana, a escolha de Bolsonaro para substituir Celso de Mello não constituiria uma maioria conservadora no Supremo, mas a correlação de forças começa a mudar.

Tanto lá como cá, o notório saber jurídico não é, nem de longe, um item a ser considerado. Trump e Bolsonaro querem apenas magistrados que votem a seu favor, nada mais. Os dois governantes, assim, estão mais uma vez afinados: importam-se mais com seus próprios umbigos que com os países que presidem.

A grande diferença é que Bolsonaro já anunciou que um dos insólitos critérios para indicar o próximo ministro é que ele seja parceiro de cerveja nos fins de semana. Ao contrário do colega brasileiro, o bilionário Trump não tem nenhum jeitão de que curtiria uma loira gelada nos domingos de churrasco na Barra da Tijuca.