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Chico Alves

Alerta para o Brasil: o que a Bolívia e os Estados Unidos têm em comum

Polícia vigia parte externa do centro de convenções da Filadélfia - REUTERS/Eduardo Munoz
Polícia vigia parte externa do centro de convenções da Filadélfia Imagem: REUTERS/Eduardo Munoz

Colunista do UOL

07/11/2020 14h17

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Apesar das diferenças abissais entre a Bolívia e os Estados Unidos, os sistemas políticos dos dois países estão nesse momento às voltas com ameaça política semelhante: a reação de extremistas de direita ao resultado do processo eleitoral. Grupos de retórica agressiva, sem pudor de exibir ímpetos violentos e - pior - armados de rifles e outros artefatos bélicos tentam intimidar os vencedores.

No país vizinho, 55% dos eleitores bolivianos decidiram em primeiro turno que Luis Arce, correligionário de Evo Morales, deve assumir a presidência. Inconformado, o radical Luis Fernando Camacho, que chegou em terceiro, com apenas 14% dos votos, passou a fazer ameaças de não aceitar o resultado das urnas.

Das palavras à ação foi um pulo. Na noite de quinta-feira, o local onde estava Arce foi alvo de um ataque a dinamite. O presidente eleito saiu ileso. Camacho, porém, diz que não sai das ruas com seus apoiadores fanáticos e quer impedir a posse, prevista para amanhã.

A história da Bolívia é coalhada de entreveros parecidos, o país é o recordista sul-americano de golpes de Estado.

Nos Estados Unidos, que até pouco tempo se orgulhavam de ser a democracia mais sólida do mundo, os americanos vivem nesse momento situação parecida com a dos bolivianos. Partidários de Donald Trump se recusam a aceitar a derrota.

No Arizona, direitistas foram para a frente do local de apuração empunhando armas, com a intenção de intimidar os responsáveis pela contagem dos votos. Na Filadélfia, homens armados foram presos ao tentar infiltrar cédulas falsas no espaço onde ocorre a apuração.

Não houve nada parecido com um atentado a dinamite, como na Bolívia, mas a movimentação dos radicais fez com que o Serviço Secreto reforçasse a segurança de Joe Biden. O espaço aéreo do local onde o presidenciável se encontra foi interditado.

Os brasileiros devem observar estes dois episódios com atenção para projetar como será 2022, quando teremos eleição presidencial.

Um grupo crescente de extremistas de direita tem mostrado as garras por aqui.

É certo que na campanha de 2018 o maior ato de violência foi praticado contra um representante da direita, quando Adélio Bispo esfaqueou Jair Bolsonaro.

De lá para cá, porém, o discurso de ódio tornou-se monopólio dos direitistas. Eleitor do PT, o famoso Mestre Moa do Katendê foi morto a facadas na Bahia por um simpatizante de Bolsonaro. Ativistas e milícias digitais ameaçaram ministros do Supremo Tribunal Federal e parlamentares.

Além disso, o afrouxamento das regras para porte e posse de armas traz um componente preocupante para o ambiente tóxico da polarização política.

"O exemplo que a gente está vendo nos Estados Unidos, como esses movimentos mais radicais trabalham o processo eleitoral e principalmente o processo de apuração, eu acho que isso pode ser um espelho para o Brasil", alertou o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ). "Não quer dizer que vai acontecer, mas pode ser".

Maia referia-se, obviamente, a uma eventual derrota eleitoral de Bolsonaro em sua anunciada tentativa de reeleição. Se mesmo saindo vitorioso da eleição de 2018 ele "denunciou" sem provas uma fraude que não houve, imagine-se o que vai dizer se perder.

Diante do que acontece na Bolívia e nos Estados Unidos, seria bom que as autoridades começassem a se movimentar para prevenir turbulências.

Nos últimos anos, a inteligência das Forças Armadas acompanhou com atenção os movimentos de esquerda. A prudência indica que, a partir de agora, estrategistas da área de segurança e arapongas devem virar a cabeça para o lado oposto.