Topo

Chico Alves

Pazuello me disse que não tem onde fabricar vacina da Pfizer, diz Dino

Governador do Maranhão, Flavio Dino - Divulgação
Governador do Maranhão, Flavio Dino Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

11/12/2020 04h00

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Diante da indefinição do Ministério da Saúde sobre o plano de vacinação contra o coronavírus, o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), fez ao ministro da Saúde uma sugestão criativa. Propôs que o governo federal passe a fabricar a vacina da Pfizer, até agora a única liberada para uso na população.

O conselho foi dado a Eduardo Pazuello na segunda-feira, um dia antes da reunião com os governadores em que o ministro disse não saber se há demanda pelo medicamento. Pazuello, no entanto, alegou que não teria onde produzir a vacina.

"A Fiocruz está pronta para fabricar a AstraZeneca, mas não está fabricando", lamenta o governador. "Então, minha gente, vamos fabricar essa da Pfizer".

O governador maranhense avalia que, apesar das críticas que recebe de outros governadores, João Doria tem agido corretamente. "Ele tem o dinheiro, tem o Butantan, tem uma parceria com a China, por qual motivo vai ficar parado esperando Bolsonaro?"

Flávio Dino entrou com ação no Supremo Tribunal Federal para garantir a compra de qualquer vacina que tenha sido aprovada nas agências internacionais. Caso isso aconteça, quer ser reembolsado pelo governo federal.

UOL - O sr. fez uma postagem nas redes sociais cobrando do governo federal informações mais detalhadas sobre a vacina de Oxford. O que acha que deveria ser informado?

Flávio Dino - Nós temos a vacina AstraZeneca na fase 3, sem horizonte claro. O governo tinha que dizer em que estágio está essa vacina. Ele aponta o dedo para o Doria, dizendo que não pode anunciar plano de vacinação com base em uma vacina que não existe, que é a CoronaVac. E a AstraZeneca existe? Não. Está no mesmo lugar que a CoronaVac.

Diante desse contexto, o governo tenta segurar a vacina CoronaVac e vai desesperadamente atrás da Pfizer.

O governo deveria tentar oferecer parceria para a Pfizer. Dizer: olha, nós temos aqui laboratório. Existe laboratório no Paraná, existe laboratório na Bahia. Ambos públicos. Existem laboratórios nas universidades federais, não é só Butantan e Fiocruz que existem no Brasil. É o que eu faria.

A segunda opção: conseguir que a AstraZeneca e CoronaVac sejam liberadas, Fora isso não tem mais nada.

Como seria essa parceria mais ampla com a Pfizer?

Acho que o governo deveria procurar a Pfizer não só para comprar, mas também para fabricar. Nós temos 210 milhões de pessoas, isso é um mercado grande que interessa a qualquer empresa.

A Fiocruz está pronta para fabricar a AstraZeneca, mas não está fabricando. Então, minha gente, vamos fabricar essa da Pfizer.

O sr. chegou a sugerir diretamente ao ministro a parceria para a fabricação da vacina da Pfizer?

Tive uma conversa com ele por telefone na segunda-feira, antes da reunião dos governadores. Falei com o ministro e ele disse que ia tentar comprar, disse que estava atrás de quatro milhões de doses da Pfizer para vacinar dois milhões de pessoas ainda este ano.

Eu disse pra ele: "Por qual motivo não fabrica?". Ele respondeu: "Não tem onde fabricar". Eu disse: "Ministro, tem".

Tudo é uma questão de dinheiro, isso é mercado. Não sei qual é a política comercial da Pfizer, mas parece uma coisa meio óbvia: se a AstraZeneca tem interesse, por que a Pfizer não teria, num mercado desse tamanho? Podendo abastecer a América do Sul, tendo a Fiocruz que pode fabricar? Faríamos uma joint venture.

Tudo é uma questão das condições que você oferece. Uma coisa é, na bacia das almas, o governo brasileiro comprar 100 milhões de doses. Outra coisa é chamar os caras, como foi feito com a AstraZeneca, e como o Butantan fez com a Sinovac. Poderia separar R$ 1 bilhão, digamos. Perguntaria se os estados poderiam participar.

Isso deveria ter sido feito há dois meses. É óbvio. O motivo pelo qual o governo optou apenas por um tipo de vacina é um dos mistérios a serem desvendados.

O sr. acredita que a indefinição sobre a vacina ainda vai durar muito mais tempo?

Acho que tem um componente que pode entrar nessa história que são catalisadores externos ao governo que o empurrem a uma ação mais assertiva.

No caso das medidas preventivas, os catalisadores externos foram os governadores e o Supremo. O Supremo desatou as mãos dos governadores, que logo agiram.

Nesse caso da vacina, também. Ou seja, o STF pode criar um rito para suprir omissões da Anvisa ou até obrigar o governo federal a agir nessa direção ou na outra. Eu acho que é isso que vai se desenhando.

Minha prospecção é que se o governo não agir rapidamente e não der uma resposta objetiva, clara, em uma semana, esses catalisadores externos vão surgir. Pela ação dos governadores, pela ação do Supremo, pela ação do Congresso e mostrando caminhos, de acordo com a evolução da vacina em outros países.

Se a vacinação avançar rapidamente em outros países cria uma situação insustentável para o Bolsonaro. Vai ficar dizendo "Não, a AstraZeneca está chegando". Mas que dia? Ninguém sabe.

Qual a sua expectativa em relação à ação movida no Supremo Tribunal Federal para garantir a compra da CoronaVac para o Maranhão quando ela estiver disponível?

Na verdade, o motivo de nossa ação no Supremo é para que o governo do Maranhão possa comprar vacina baseado naquela equivalência que a lei prevê como uma possibilidade de validação e certificação através das agências dos Estados Unidos, do Japão, da China e da União Europeia.

O segundo pedido é o seguinte: o que eu comprar, vou apresentar a conta para a União. A obrigação legal é do governo federal, na lógica do SUS e da lei que rege o Plano Nacional de Imunização, eu não sou obrigado a comprar vacina. Quem é obrigado é o governo federal.

Na reunião de terça-feira, muitos governadores se mostraram irritados com João Doria, com a alegação que a conduta do tucano em relação à CoronaVac aumenta a pressão da população sobre eles. Qual a sua posição?

Essa crítica de fato existiu abertamente de vários governadores. A voz mais enfática foi a do Caiado (Ronaldo Caiado, governador de Goiás), mas vários falaram sobre isso.

Nesse caso eu discordo do principal. Considero que o Doria não agiu, ele reagiu.

Em outubro, Doria estava feliz com o acordo que foi feito para a venda de 40 milhões de doses da vacina CoronaVac. O Pazuello assinou dizendo que compraria vacina do Butantan.

Seria justa a crítica se o Doria tivesse dito de saída que agora tem sua a vacina e quem quiser que venha atrás. Mas não. Ele reagiu porque depois Bolsonaro mandou Pazuello rasgar o acordo. Disse que não tinha acordo nenhum, que ele não iria comprar "vachina".

Vamos raciocinar: Doria não poderia ficar parado. Ele tem o dinheiro, tem o Butantan, tem uma parceria com a China, por qual motivo vai ficar parado esperando Bolsonaro?

Acho que a crítica está errada nesse aspecto. Foi uma reação dele à insanidade do Bolsonaro, à insensatez de Bolsonaro, de querer excluir um tipo de vacina. E este impasse em que estamos agora deriva dessa decisão errada. Se há três ou quatro meses o governo dissesse que compraria todas as vacinas de eficácia comprovada, nós não estaríamos nesse problema. Isso acontece porque o governo jogou todos as suas fichas em uma vacina só.

Qual foi a sua reação na reunião dos governadores quando o ministro Pazuello fez aquela ressalva quanto à compra da vacina: "Se houver demanda"? Ficou muito surpreso?

Bastante, porque a demanda é óbvia. Quando eu perguntei sobre a compra da CoronaVac ele disse isso a primeira vez dessa forma: "Tendo demanda eu vou levar o assunto ao Palácio do Planalto".

Eu tomei um susto. Pensei: Que maluquice! Ele está dizendo que quem escolhe a vacina é o presidente, que é a última pessoa a ser consultada nesse assunto.

Eu vi a Angela Merkel dizendo que não é especialista nesse assunto, que quem sabe são os cientistas. Já o Bolsonaro acha que pode receitar cloroquina e vetar vacina.