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Chico Alves

Servidores da Abin falam em 'cortar na carne' caso haja desvio de função

Carlos Estrela, presidente da Abin - Divulgação
Carlos Estrela, presidente da Abin Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

11/12/2020 17h46

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Diante da notícia publicada na revista Época de que integrantes da Agência Brasileira de Inteligência teriam feito relatórios para orientar a defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos) na ação em que é acusado de praticar rachadinha, o presidente da associação de servidores, Carlos Estrela, defende a integridade dos colegas.

Ele acredita que, caso seja provado algum desvio, a corregedoria interna vai agir com rigor. "Nós seremos os primeiros a dizer que tem que pagar e cortar na própria carne", afirma o presidente da Associação de Servidores da Agência Brasileira de Inteligência (Asbin).

Estrela quer esclarecimentos dos diretores do órgão sobre o caso. "Vamos entrar em contato com a direção da Abin para verificar se houve isso ou não houve", diz ele, que tem preocupação com possíveis ingerências políticas no órgão.

Nessa entrevista à coluna, Estrela comentou a reunião realizada em agosto entre o ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional, Augusto Heleno, o diretor da Abin, Alexandre Ramagem, e o presidente Jair Bolsonaro, no Palácio do Planalto, com as advogadas de Flávio Bolsonaro: "Isso foi uma infelicidade".

UOL - Quais informações o sr. teve sobre esse relatório da Abin divulgado pela revista Época que seria usado para orientar a defesa de Flávio Bolsonaro?


Carlos Estrela - A atividade de inteligência é muito compartimentada, os assuntos são tratados de acordo com o grau de sigilo. Mas quero ressaltar que a produção de um relatório de inteligência segue uma doutrina, tem um controle desde o nascedouro até ir para o arquivo. No nosso meio não há chance de um profissional passar um relatório por WhatsApp.

Só a Agência poderia dar a palavra final nisso, nós não temos como dizer se procede ou não. O que posso falar é em relação aos indícios, que não procedem. Até a forma da escrita dos relatórios da Abin seguem uma doutrina.

Na agência, os servidores são altamente qualificados, têm conduta de agentes de Estado. É pouco provável que alguém mande uma mensagem nesse formato.

Mas esse caso não segue regras protocolares desde o início, desde que o general Augusto Heleno, Alexandre Ramagem, o presidente Bolsonaro e as advogadas de Flávio Bolsonaro se reuniram no Palácio do Planalto para tratar da defesa do senador.

Eu não tenho como confirmar isso. O que posso é falar da conduta dos servidores e da própria agência.

Institucionalmente, o que a associação pode fazer com relação a essa denúncia?

Vamos entrar em contato com a direção da Abin para verificar se houve isso ou não houve. Dentro da agência existe uma corregedoria. Nessas questões, a própria agência abre um processo administrativo para apurar se procede ou não as denúncias. O rigor é muito grande.

Não tenho condições de dizer se aconteceu realmente. Não posso colocar a mão no fogo. Mas temos que proteger a instituição, a agência e os servidores que ali trabalham, que dedicam a sua vida a essa tarefa.

Se acontecer de um servidor ter feito alguma coisa errada, nós seremos os primeiros a dizer que tem que pagar e cortar na própria carne.

O que não pode é que essas situações detonem com a imagem de um patrimônio fantástico que é o trabalho de inteligência que todo país tem e precisa ter. Desqualificar os servidores serve apenas para fortalecer a atividade de inteligência de outros países. Nossos colegas são altamente elogiados internacionalmente.

O sr. tem preocupação com a politização do trabalho da Abin?

Sim. Porque desde cedo na área de inteligência é dito pra gente que não temos função político-partidária. Tivemos Collor, FHC, Lula, Dilma e com todos eles tivemos excelente relacionamento. Hoje é Bolsonaro e servimos do mesmo jeito, no mesmo padrão, à Presidência da República. Independente de quem sentar lá.

Quando houver ingerência política dentro agência, nós vamos ser os primeiros a levantar que isso não está legal. Porque isso é cobrado de nós.

Mas a própria reunião do ministro-chefe do GSI e do diretor da Abin no Palácio do Planalto, com a defesa de Flavio Bolsonaro e o presidente já não coloca a Abin em uma situação difícil?

Eu diria com toda a sinceridade que foi uma infelicidade tremenda. Ele (Heleno) como amigo do presidente teria direito de tratar do assunto. Mas como chefe do GSI foi uma infelicidade muito grande. Na nota que ele emitiu disse que achava que era uma coisa (a pauta da reunião) e depois viu que era outra coisa.

Ele é uma pessoa boa, comprometida com nosso país, com os anseios dos brasileiros. Acho mesmo que foi um ato de infelicidade da parte dele.