Topo

Chico Alves

REPORTAGEM

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

Senado aprova uso de vacina sem aval da Anvisa. Sanitarista critica

Gonzalo Vecina Neto - Reprodução de vídeo
Gonzalo Vecina Neto Imagem: Reprodução de vídeo

Colunista do UOL

14/04/2021 14h24

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

O Senado aprovou ontem Projeto de Lei que dá autorização excepcional e temporária a União, Estados e municípios para importação e distribuição de vacinas e medicamentos sem registro prévio na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A medida vale para itens essenciais no enfrentamento à pandemia, desde que registrados por pelo menos uma das autoridades sanitárias estrangeiras. O projeto foi criticado pelo fundador da Anvisa, sanitarista Gonzalo Vecina Neto.

"Isso não tem precedentes e é extremamente perigoso", disse Vecina Neto à coluna.

O projeto, que agora vai ser avaliado pela Câmara dos Deputados, é de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG). O objetivo é aumentar a oferta de vacinas para fazer com que a campanha de imunização seja mais ágil no Brasil. Essa autorização beneficiaria em especial a entrada no país dos imunizantes estrangeiros cujos contratos já foram assinados com governos estaduais e a oferta de outras fontes de compras de vacinas

Para demonstrar o perigo de um projeto desse tipo, o fundador da Anvisa exemplifica com o caso das vacinas indianas. "A Índia tem 3 mil indústrias farmacêuticas funcionando. A imensa maioria dessas indústrias é muito ruim, apenas 20 seguem o padrão mundial", explica Gonzalo Vecina Neto.

Segundo ele, a empresa Barak Biontech produz vacinas sem seguir as regras de internacionais. "A Anvisa foi lá fazer inspeção na Barak Biontech e ela foi reprovada por causa de itens básicos do tipo processos de esterilização mal conduzidos, verificação da potência da vacina mal conduzida, coisas muito primárias", diz Vecina Neto.

O especialista explica que a Anvisa faz parte de um clube de excelência integrado por 32 agências mundiais "O Brasil é o único país em desenvolvimento que faz arte desse grupo, com a Anvisa. Se pelo menos o projeto restringisse a liberação a vacinas aprovadas a uma dessas 32 agências, não seria tão grave", comenta Vecina Neto.

Na visão do sanitarista, se o projeto for aprovado, enquanto o período excepcional durar a Anvisa será um órgão decorativo. "E a responsabilidade do que vier a ocorrer é de quem aprovou a lei", alerta.