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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro paralisa o Brasil ao fazer maior 'toma lá, dá cá' da história

Bolsonaro em encontro no Planalto com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e líder do centrão. - reprodução
Bolsonaro em encontro no Planalto com Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e líder do centrão. Imagem: reprodução

Colunista do UOL

25/04/2021 09h57

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"Nosso governo paga um preço de aprovações de matérias nunca visto antes na história".

A frase foi escrita em um grupo de WhatsApp em dezembro pelo então ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antonio, personagem muito próximo do presidente Jair Bolsonaro. Se o comentário — uma crítica ao 'toma lá, dá cá' coordenado pelo ministro Luiz Eduardo Ramos (na época titular da Secretaria de Governo) — já era verdadeiro há cinco meses, agora ainda mais.

A diferença é que o preço do apoio deu um salto estratosférico.

Diante do governo que passou o primeiro ano e meio de mandato atarantado por não ter base no Congresso, o centrão exigiu dote jamais visto para selar uma parceria. Resultado: para chegar ao desejado montante de emendas parlamentares, o governo Bolsonaro canibalizou serviços essenciais da máquina estatal.

A dotação de R$ 35 bilhões de emendas para deputados e senadores está mantida a custa de cortes em áreas fundamentais como Saúde, — que mesmo em meio à pandemia perdeu R$ 2,2 bilhões —, Educação — alvo de achatamento da ordem de R$ 3,9 bilhões — e Desenvolvimento Regional, subtraído em R$ 9,4 bilhões.

Como se sabe, por causa dessa tesourada não será feito o Censo, apesar da obrigatoriedade legal. Como consequência, o Brasil ficará sem o principal instrumento para planejamento de políticas públicas. É como se o governo federal fosse um carro que Bolsonaro decidiu dirigir de olhos vendados. Os efeitos dessa barbeiragem serão sentidos por todos os brasileiros.

Muitos outros serviços essenciais foram afetados, como as ações de combate à pandemia, que perderam R$ 485 milhões, ou o Fundeb, que terá R$ 585 milhões a menos que o previsto.

No fim das contas, para manter a chamada governabilidade, em várias frentes Bolsonaro e sua equipe abriram mão de governar.

Talvez isso faça sentido para cabeças como a do ministro Paulo Guedes, que deu várias demonstrações de que não compreende a importância do Estado e que valoriza tão pouco o funcionalismo.

Mas para milhões de brasileiros que dependem do governo, o corte de alguns serviços é notícia trágica. Especialmente em meio à crise gerada pela pandemia.

Não deixa de ser irônico que a rendição incondicional ao centrão parta justamente do presidente que se elegeu falando em acabar com o 'toma lá, dá cá'. Essa bandeira foi abandonada há muito.

Em vez disso, Jair Bolsonaro foi na mão inversa. Acaba de executar sem nenhum pudor o maior escambo político de todos os tempos.

(Trilha sonora incidental: "Se gritar pega ladrão", na interpretação do general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional)