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Chico Alves

REPORTAGEM

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Bolsonaro repete ameaça e mentira para expor brasileiros à covid-19

Colunista do UOL

05/05/2021 15h39Atualizada em 05/05/2021 19h21

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Jair Bolsonaro não se emenda. Nem mesmo a marca estratosférica de 410 mil mortos na pandemia faz com que ele tire da cabeça a ideia de pregar contra as medidas restritivas anunciadas por governadores e prefeitos. Usando a crise econômica como argumento, insiste em empurrar brasileiros ao risco de morte pela covid-19.

Repetiu essa arenga hoje, em discurso no Palácio do Planalto, acrescentando uma novidade: cogitou editar um decreto com esse fim.

"Peço a Deus que não tenha que baixar o decreto, mas, se baixar, ele será cumprido, com todas as forças que todos os meus ministros têm, e não será contestado", vociferou.

Está é a nova ameaça no rol de Bolsonaro, que parece eternamente sonhar com uma crise institucional.

"Não ousem contestar, quem quer que seja. Sei que o Legislativo não contestará, afinal de contas vocês fizeram a Constituição de 1988", bradou.

Não importa ao presidente da República quantas vidas poderiam se perder caso as medidas restritivas fossem suspensas, como ele quer. A Bolsonaro só interessa posar de tiranete, de testa franzida e cara fechada, cuspindo bravatas.

Diz "não ousem contestar" como se nas democracias houvesse alguma autoridade incontestável. Não há. Qualquer figurão pode ser refutado e o caminho para isso é a Justiça.

Para levar adiante seu papel esdrúxulo, o presidente repetiu hoje mais uma vez a mentira de que o Supremo Tribunal Federal tirou os poderes do governo federal para entregá-los a prefeitos e governadores. Na verdade, a decisão do STF foi de compartilhar responsabilidades. Bolsonaro e seus seguidores sabem muito bem disso, mas repisam a falácia com o propósito de desinformar.

Para piorar, o presidente diz que o tal decreto é um pedido que ele ouve "nas ruas", certamente referindo-se aos seguidores que fizeram carreatas no sábado, 1° de maio. É o mesmo "povo" que pediu o fechamento do STF e a intervenção militar, para se contrapor à miragem de militantes comunistas que só eles enxergam.

Para Bolsonaro e sua família, alguns milhares de manifestantes que se aventuram a sair às ruas em meio à pandemia podem representar os milhões de brasileiros, desde que concordem com suas teses. Trata-se de uma incongruência matemática.

Esse tom ameaçador do ocupante do Palácio do Planalto volta a público sempre que ele se ente ameaçado. A CPI da Covid, que investiga no Senado as barbeiragens de seu governo durante a crise sanitária, é o mais provável motivo do destempero atual.

Completamente abilolado, voltou a levantar falsas suspeitas contra a China, nação da qual o Brasil tanto depende. "Os militares sabem que é guerra química, bacteriológica e radiológica", questionou Bolsonaro, referindo-se à pandemia. "Qual o país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês."

Em meio à escalada de mortes pelo coronavírus, no dia seguinte ao falecimento de um artista tão querido pelo público quanto o comediante Paulo Gustavo, tudo o que o país não precisava era de mais um chilique presidencial.

Jair Bolsonaro, no entanto, não se emenda.