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Chico Alves

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Aras não está nada preocupado com o 'julgamento da História'

Augusto Aras - Dida Sampaio/ Estadão Conteúdo
Augusto Aras Imagem: Dida Sampaio/ Estadão Conteúdo

Colunista do UOL

08/08/2021 12h19

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É antiga a lenda urbana segundo a qual homens públicos que cometem malfeitos em seus cargos e não são punidos pelos tribunais acabarão condenados no "julgamento da História". A fábula serve para aplacar frustrações diante da rotina de impunidade, mas também colabora para reduzir o ímpeto daqueles que deveriam lutar para que a justiça seja feita agora mesmo, diante de nossos olhos.

A verdade é que o tal veredito da História é tão inócuo quanto incerto.

O covarde Brilhante Ustra ficará para a posteridade como abjeto torturador dos tempos do regime militar ou como herói anticomunista? O ex-deputado Eduardo Cunha será lembrado como chefe de uma quadrilha que usou a Câmara para fins escusos ou como o presidente da Casa que livrou o país da presidente petista? O ex-juiz Sergio Moro será olhado no futuro como o magistrado parcial que combinava táticas de acusação com os promotores ou como o paladino da luta contra a corrupção?

Ninguém sabe.

Os figurões que são alvos de nossa ira não dão a menor bola para o conceito que os brasileiros do futuro terão sobre eles. Querem desfrutar do poder aqui e agora.

Um bom exemplo: caso se importasse com o "julgamento da História", alguém como o procurador-geral da República, Augusto Aras, talvez tivesse muitos motivos de preocupação. Na condição de autoridade que deve reagir aos possíveis crimes do presidente da República, tem um prato cheio na gestão do desvairado Jair Bolsonaro.

A reação de Aras diante da inacreditável sequência de delitos do presidente é nula.

Os livros de História registrarão que o atual PGR é de tal forma omisso que por duas vezes um grupo de subprocuradores-gerais enviou a ele manifestos para que cumpra sua tarefa funcional, pois não lhe é dado "assistir passivamente aos estarrecedores ataques" a instituições.

Não bastasse o vexame de ser advertido por seus pares, Aras também levou um puxão de orelhas do próprio presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luiz Fux, que foi até seu gabinete para pedir que trabalhasse.

Depois desse constrangimento inédito, ele continua na mesma. Observa Bolsonaro avançar com seu golpe como a mãe dondoca olha o filho malcriado quebrar tudo em casa. Não move uma palha.

O procurador-geral está mais preocupado em ir à Justiça contra colunistas que o criticam.

Obviamente, seu foco é ser reconduzido ao cargo e manter o poder atual, não os xingamentos que poderá receber daqui a algumas décadas.

Aos que se incomodam com a pasmaceira de Aras, talvez seja melhor pensar em alternativas mais imediatas. Sobre isso, é preciso fazer um lembrete: procuradores-gerais também estão sujeitos a impeachment se não cumprirem seu dever. Como repete o jurista Walter Maierovitch, a prevaricação está caracterizada e o Senado tem poder para tirá-lo do cargo.

Essa, sim, seria uma providência eficaz. Muito mais efetiva que esperar a tal sentença da História que ninguém sabe se e quando virá.