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Chico Alves

REPORTAGEM

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Desigualdade e negacionismo causam nova alta da covid, dizem ex-ministros

José Gomes Temporão e Luiz Henrique Mandetta - Divulgação
José Gomes Temporão e Luiz Henrique Mandetta Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

27/11/2021 12h33

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A dificuldade de acesso a vacinas nos países pobres, especialmente na África, e os movimentos antivacina da Europa e Estados Unidos são os principais motivos da atual alta da pandemia de covid-19, avaliaram à coluna os ex-ministros da Saúde José Gomes Temporão e Luiz Henrique Mandetta.

No surgimento da nova cepa do coronavírus na África, a desigualdade é a questão central, acredita Temporão, que comandou a pasta da Saúde no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. "Ao mesmo tempo que os países ricos compraram para suas populações uma quantidade de doses muito superior às necessárias, como tentando fazer uma reserva estratégica, o resto do mundo, principalmente a África, alguns países asiáticos e da América Latina ficaram sem acesso às vacinas", destaca ele.

Isso aconteceu, para o ex-ministro, mesmo depois de grandes esforços da Organização Mundial da Saúde e reiterados avisos dos cientistas de que esses países com baixíssima cobertura vacinal acabariam se transformando em potenciais "laboratórios" de produção de cepas mutantes.

Mandetta, que foi o primeiro ministro da Saúde da gestão de Jair Bolsonaro, também critica a desigualdade no acesso a imunizantes. "O mundo precisa de um novo mecanismo para permitir produção em larga escala para pandemias que respeite a inventividade, mas que permita acesso a vacina", sugere. "Vamos conviver com mutações que podem vir resistentes enquanto não aplicarmos em bloco duas doses para oito bilhões de pessoas. Ou seja, 16 bilhões de doses".
Para o ex-ministro de Bolsonaro, a ganância e a ausência de liderança política global são "fraturas expostas" nessa pandemia.

Outro fator importante para a atual alta de casos é o movimento negacionista nos Estados Unidos e Europa. "São situações distintas: enquanto há países que têm doses para oferecer e parte da população se recusa a recebê-las, de outro lado há países que não têm acesso às vacinas porque o mecanismo de solidariedade não funciona", diz Temporão. "Nenhum país do mundo vai se sentir completamente seguro enquanto a cobertura vacinal global não estiver próximo dos oitenta por cento".

Para o caso dos negacionistas americanos e europeus, Temporão afirma que a medida que já deveria ter sido tomada há algum tempo pelo governo brasileiro seria a exigência do passaporte vacinal. "A comunidade europeia e os Estados Unidos estão fazendo essa exigência para os brasileiros e nós aqui deveríamos estar fazendo o mesmo", critica ele.

Mandetta também acha que o Brasil deveria exigir vacina e testagem antes do embarque. "Os sem vacina são sem noção e sem comportamento coletivo", diz.

Ele recomenda medidas preventivas para evitar maiores estragos da nova cepa Ômicrom. "Caso seja transmissível em alta velocidade vai chegar aqui e ainda temos um número expressivo a completar as duas doses. O Brasil praticamente não testa, não faz isolamento para identificar cepas e não está fazendo busca ativa para vacinação", alerta ele. "Temos um bom caminho pela frente".

Sobre a nova cepa, Temporão diz que há muitas interrogações ainda. "A cada cepa mutante que surge temos as mesmas perguntas de quando a Delta apareceu. São perguntas em aberto ainda".