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Constança Rezende

Sara Winter disse ter nível superior ao governo sem ter concluído

sara winter - Reprodução/Instagram
sara winter Imagem: Reprodução/Instagram

Colunista do UOL

16/06/2020 14h09

A líder do grupo armado de extrema-direita "300 do Brasil" presa ontem pela Polícia Federal, Sara Winter, disse ter nível superior sem ter concluído, em currículo entregue ao governo federal para ocupar cargo no Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.

O UOL obteve, através de Lei de Acesso à Informação, o documento apresentado por ela à pasta chefiada por Damares Alves, em maio do ano passado. As informações que constam no currículo de Sara contradizem o que diz a Uninter, faculdade onde diz ter se formado, o seu depoimento à Polícia Federal e entrevistas concedidas pela própria manifestante.

O currículo foi apresentado por Sara na ocasião de sua nomeação como coordenadora-geral de Atenção Integral à Gestante e à Maternidade do Departamento de Promoção da Dignidade da Mulher da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres, no dia 24 de maio de 2019. Ela trabalhou por cerca de cinco meses no governo.

No documento, Sara diz ter graduação em relações internacionais pela Uninter, em 2019, que tem sede em Curitiba. Também afirma ser formada, pela mesma faculdade, em mais três cursos de extensão, no ano de 2017: assessoria em marketing pessoal para candidatos, crimes na administração pública e processos eleitorais.

Currículo de Sara Winter apresentado ao governo federal e obtido pelo UOL via Lei de Acesso à Informação - Reprodução  - Reprodução
Currículo de Sara Winter apresentado ao governo federal e obtido pelo UOL via Lei de Acesso à Informação
Imagem: Reprodução

Porém, procurada pelo UOL por email, a Uninter afirmou que "a aluna Sara Fernanda Giromini está concluinte somente no curso 2017/02 assessoria em marketing pessoal e político para candidatos (distância Uninter) em 22/03/2017".

Os demais cursos citados no currículo de Sara, segundo a faculdade, "estão com status ativo " e "em andamento", informou.

Em depoimento prestado ontem pela manifestante à Polícia Federal, após ser presa no inquérito que investiga manifestações antidemocráticas, Sara declarou ter como instrução "superior incompleto".

Numa entrevista ao portal Universa, do UOL, publicada cerca de um mês antes de sua contratação (no dia 26 de abril de 2019) e, portanto, antes da apresentação de seu currículo ao ministério, Sara disse que iria terminar a sua graduação de relações internacionais na Uninter no meio do ano.

"Fiz cursos de extensão que ajudaram na minha formação, principalmente de crimes na administração pública", afirmou.

Em seu site oficial, Sara informa ser "graduada em relações internacionais com formação especial em assessoria e marketing político, e pós-graduanda em ciência política".

A manifestante foi exonerada da função no ministério no dia 21 de outubro de 2019. Ela tinha a função comissionada DAS 101.3, e recebia o salário bruto de R$ 5.685. Segundo a pasta, Sara foi exonerada do cargo a pedido. A justificativa apresentada por ela, à época, teria sido de que queria estar livre para falar o que quisesse e de que ganharia mais fora do governo.

Questionado sobre a nomeação de Sara, o ministério respondeu que "a referida ex-servidora apresentou toda a documentação que comprovava sua aptidão para o cargo". Porém, informado que a universidade não reconhecia sua formação, afirmou que "estava verificando junto à área técnica" e não mais retornou.

Procurada na última sexta-feira, a defesa da ativista disse que não iria se pronunciar sobre o assunto. Nesta segunda, a advogada de Sara, Renata Felix, disse não ter informações sobre o caso.

Pela Lei de Acesso à Informação, o ministério de Damares citou os requisitos exigidos para o cargo de Sara, regidos pelo Decreto nº 9.727, de 15 de março de 2019, mediante auto declaração:

- idoneidade moral e reputação ilibada;

- perfil profissional ou formação acadêmica compatível com o cargo ou a função para o qual tenha sido indicado; e

- não enquadramento nas hipóteses de inelegibilidade previstas no inciso I do caput do art. 1º da Lei Complementar nº 64, de 18 de maio de 1990 .

Além disso, o DAS nível 3 (o de Sara) deve atender, no mínimo, a um dos seguintes critérios:

  • possuir experiência profissional de, no mínimo, dois anos em atividades correlatas às áreas de atuação do órgão ou da entidade ou em áreas relacionadas às atribuições e às competências do cargo ou da função;

  • ter ocupado cargo em comissão ou função de confiança em qualquer Poder, inclusive na administração pública indireta, de qualquer ente federativo por, no mínimo, um ano;

  • possuir título de especialista, mestre ou doutor em área correlata às áreas de atuação do órgão ou da entidade ou em áreas relacionadas às atribuições do cargo ou da função;

  • ser servidor público ocupante de cargo efetivo de nível superior ou militar do círculo hierárquico de oficial ou oficial-general; ou

  • ter concluído cursos de capacitação em escolas de governo em áreas correlatas ao cargo ou à função para o qual tenha sido indicado, com carga horária mínima acumulada de cento e vinte horas."