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Constança Rezende

Número de militares em cargos civis mais que dobra em governo Bolsonaro

Oito dos 22 ministros de Bolsonaro são militares, a maior participação das Forças Armadas em um governo desde a redemocratização - Equipe de transição/Rafael Carvalho
Oito dos 22 ministros de Bolsonaro são militares, a maior participação das Forças Armadas em um governo desde a redemocratização Imagem: Equipe de transição/Rafael Carvalho

Colunista do UOL

17/07/2020 19h53

O número de militares da ativa e da reserva em cargos civis mais que dobrou no governo de Jair Bolsonaro (sem partido), em comparação com o último ano da gestão de Michel Temer (MDB).

De acordo com um levantamento feito pelo TCU (Tribunal de Contas da União), já são 6.157 militares nesta situação, em comparação com 2.765, em 2018.

Eles ocupam cargos em conselhos de estatais, na alta administração do Poder Executivo, cargos comissionados, temporários e na administração Pública.

Também há 1.249 militares em cargos de profissionais da saúde. Antes do governo Bolsonaro, eram 718 militares exercendo estas funções.

O levantamento foi pedido pelo ministro Bruno Dantas, com o objetivo de avaliar a situação e divulgar esses dados à sociedade.

Ele tomou a iniciativa depois que o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Luís Roberto Barroso alertou para supostos riscos da militarização de setores civis do governo.

Dantas disse que é importante a sociedade saber "exatamente" quantos militares, ativos e inativos, ocupam atualmente cargos civis, "dados os riscos de desvirtuamento das forças armadas que isso pode representar e considerando seu papel institucional e as diferenças entre os regimes militar e civil".

"Recentemente, são constantes as alusões a uma possível militarização excessiva do serviço público civil. Trata-se de questão relevante, que tem levantado preocupação de setores importantes dos estudiosos da Administração Pública e também da sociedade", disse.

De acordo com a assessoria do TCU, ainda não há processo autuado tratando do tema. Assim, se algum ministro entender cabível a adoção de providência complementar, deverá efetuar a solicitação, informou o tribunal.

O levantamento foi entregue na mesma semana da ampla repercussão sobre a fala do ministro do STF Gilmar Mendes de que os militares estavam se associando a um "genocídio" ao ocupar postos no Ministério da Saúde, em referência à condução da crise sanitária causada pela pandemia da covid-19.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, disse que o ministro "forçou a barra" e "ultrapassou o limite de crítica" em sua fala. Já o ministro da Defesa, general Fernando Azevedo de Silva, e os comandantes do Exército, Aeronáutica e Marinha encaminharam uma representação ao procurador-geral da República (PGR), Augusto Aras, para a "adoção de medidas cabíveis" sobre a afirmação.