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Diogo Schelp

REPORTAGEM

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Novo ministro do Ambiente foi diretor de madeireira certificada na Amazônia

8.ago.2019 - O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, em audiência pública na Câmara, em 2019 - Cleia Viana/Câmara dos Deputados
8.ago.2019 - O novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Álvaro Pereira Leite, em audiência pública na Câmara, em 2019 Imagem: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

Colunista do UOL

25/06/2021 05h58

Joaquim Álvaro Pereira Leite, nomeado para o Ministério do Meio Ambiente nesta quarta-feira (23) no lugar de Ricardo Salles, foi diretor de uma madeireira na Amazônia dedicada ao manejo florestal e à venda de créditos de carbono entre 2011 e 2017.

Nesse período, Leite atuou na Florestal Santa Maria (FSM), empresa com sede em São Paulo que possuía 72.000 hectares de bioma amazônico no município de Colniza, em Mato Grosso. Segundo Rubens Alves de Lima, sócio da empresa, a propriedade foi vendida há cerca de dois anos e dedicava-se à extração de madeira certificada e à venda de serviços ambientais, como a compensação de carbono.

Quando o agora ministro do Meio Ambiente começou a trabalhar para a FSM, a empresa estava prestes a receber a certificação REDD (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação), mecanismo que permite a venda de créditos de carbono em troca da preservação da floresta.

Leite inicialmente ajudou a empresa com questões patrimoniais e depois com a comercialização de carbono. "Ele se mostrou interessado no assunto", diz Alvez de Lima.

A primeira empresa a comprar os créditos de carbono da FSM foi a Bunge, multinacional do ramo de soja, com a previsão de compensar a emissão de 30 milhões de toneladas de gás carbônico em 30 anos.

"Sempre fui da opinião que a gente só vai salvar a floresta amazônica quando ela valer mais de pé do que no deitada", diz Alves de Lima. "Mas só o manejo florestal, vendendo madeira legalizada não é suficiente. É como ser dono de uma concessionária ao lado de uma loja de carros roubados." Para ele, a solução é a venda de créditos de carbono, ou seja, receber uma compensação financeira para manter a floresta de pé.

Desde que Leite foi nomeado ministro, tem sido destacado o fato de ele ter sido conselheiro da Sociedade Rural Brasileira (SRB) entre 1996 e 2018. Foi lá que ele conheceu Ricardo Salles, que o levou para o ministério, onde atuou no Departamento Florestal e, a partir de abril de 2020, na Secretaria de Florestas e Desenvolvimento Sustentável (depois renomeada para Secretaria da Amazônia e Serviços Ambientais).

Mas foi sua experiência de seis anos na Florestal Santa Maria, que não consta no seu currículo oficial, o que de fato explica a sua ida para o Ministério do Meio Ambiente. Ele até chamou ex-colegas dos tempos de madeireira para trabalhar com ele.

É o caso da bióloga Marta Giannichi. Ela trabalhou entre 2012 e 2014 na FSM e, em 2019, depois de concluir uma pós-graduação na Universidade de Leeds, no Reino Unido, justamente sobre créditos de carbono, foi convidada por Leite para atuar no ministério, onde atualmente é diretora do Departamento de Conservação Florestal e Serviços Ambientais.

"Ambos são muito bons. O Juca é um trator para trabalhar e a Marta também é excelente", diz Alves de Lima.

Um amigo dos tempos da Sociedade Rural Brasileira também tem a mesma avaliação positiva do novo Ministro do Meio Ambiente. Mas não é muito otimista: "O problema é que ele não tem respaldo político em Brasília para fazer o que deve ser feito, como colocar ordem no Ibama e na ICMBio, reforçando a fiscalização ambiental, que foi desmantelada pelo Salles."