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Jamil Chade

Vírus abre crise diplomático e leva Conselho de Segurança a impasse

09.jan.2020 - Debate no Conselho de Segurança da ONU - Xinhua/Li Muzi
09.jan.2020 - Debate no Conselho de Segurança da ONU Imagem: Xinhua/Li Muzi

Colunista do UOL

27/03/2020 06h16

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Resumo da notícia

  • Longe das câmeras, lideres do G-20 foram duramente cobrados por entidades internacionais
  • Donald Trump e Xi Jinping mantiveram uma reunião por telefone, na esperança de chegar a um entendimento

O coronavírus levou o Conselho de Segurança da ONU a viver um impasse poítico. O motivo: a insistência da diplomacia americana em se referir, no texto, ao Covid 19 como "vírus chinês". Ao longo das últimas semanas, a Casa Branca tem insistido em designar a origem da pandemia, num esforço político para marcar a crise como "chinesa".

Pequim rejeita qualquer referência a tal linguagem e, na tentativa de reverter a situação, pressiona o Conselho a adotar um texto que fale das medidas adotadas pelo regime comunista para frear o surto.

A tentativa de politização ainda fica claro em outros trechos do rascunho da resolução, em que o Departamento de Estado norte-americano sugeriu incluir referência ao "surto em Wuhan" e colocando a data de seu início. O objetivo é o de marcar, diplomaticamente, a responsabilidade do governo chinês.

Existem ainda referências à necessidade de se aprender do passado, em especial com o surto do SARS. Uma vez mais, o gesto foi interpretado como uma alfinetada na China e, há dez anos, a incapacidade de o país de demonstrar transparência.

Nas últimas horas, o presidente da China,Xi Jinping, manteve uma reunião telefônica com o presidente Donald Trump. De acordo com a imprensa oficial chinesa, Pequim apelou ao chefe da Casa Branca que abandone o tom de acusações contra a China e trabalhe para "melhorar de forma substancial" a relação entre os dois países, em um momento de crise.

Essa não é a primeira vez que uma negociação diplomática vive um impasse diante do posicionamento dos americanos. No começo da semana, na reunião de chanceleres do G-7, o governo dos EUA insistiu que o comunicado final incluísse uma referência ao vírus chinês. Alemanha e França se opuseram e simplesmente não houve uma declaração final.

Líderes cobrados

Num comunicado final de três páginas emitido na quinta-feira, os principais líderes do planeta tentaram passar uma imagem de união depois da reunião do G-20. Mas a realidade é que o encontro testemunhou, nos bastidores, uma dura cobrança sobre os chefes-de-estado e de governo que, juntam, formam uma espécie de diretório do planeta.

Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS, alertou que o mundo vivia uma "crise definidora de nossos tempos". "Estamos em guerra com um vírus que ameaça nos despedaçar - se o deixarmos", alertou.

"Sem ação agressiva em todos os países, milhões podem morrer. Mas nós sabemos que o preço que acabamos pagando depende das escolhas que fazemos agora", disse.

Tedros, diante da constatação de que existe uma disputa política entre governos, fez um apelo à união. "Esta é uma crise global que exige uma resposta global", disse.

"Lutem como se as vossas vidas dependessem disso - porque eles dependem", apontou o diretor, em um recado aos líderes.

"A melhor e única forma de proteger a vida, a subsistência e a economia é deter o vírus. Sem desculpas. Sem arrependimentos", afirmou.

Ele ainda lançou um segundo apelo: "unam-se". "Nenhum país pode resolver esta crise sozinho.
Estamos todos juntos nisto, e só conseguiremos sair juntos", afirmou.

"Isso significa uma mudança de paradigma na solidariedade global - na partilha de experiências, conhecimentos e recursos, e no trabalho conjunto para manter as linhas de abastecimento abertas e apoiar as nações que precisam do nosso apoio", afirmou.

Antônio Guterres, secretário-geral da ONU, foi outro que lançou um duro alerta. "Estamos em guerra com um vírus - e não estamos ganhando", disse.