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Jamil Chade

Estado tem de apoiar a favela para isolamento seguro, diz chefe da Fiocruz

11/03/2020 - Analista do laboratório da Fiocruz estuda amostra de teste de covid-19, o novo coronavírus - Carl de Souza/AFP
11/03/2020 - Analista do laboratório da Fiocruz estuda amostra de teste de covid-19, o novo coronavírus Imagem: Carl de Souza/AFP

Colunista do UOL

02/04/2020 17h03

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A presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Nísia Trindade Lima, afirma que estudos têm revelado que medidas de distanciamento social são necessárias para lidar com o avanço da pandemia do coronavírus. Defende que o Estado e a comunidade internacional também conciliem essas medidas às realidades de favelas, periferias de grandes cidades e nos países mais pobres.

A chefe da instituição foi a única brasileira a participar, na quarta-feira, de uma reunião com o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde) e com líderes globais.

O grupo de especialistas irá agora estabelecer uma espécie de plano, inclusive com a previsão de como realizar a transição segura em direção à volta à normalidade, depois de semanas de quarentenas. "Será um documento com uma estratégia global, sempre com o cuidado de se adaptar às realidades locais", explicou.

O posicionamento da brasileira no encontro foi claro: chegou a hora de a comunidade internacional encarar como lidar com uma pandemia num país emergente. Isso, segundo ela, exige solidariedade global e compartilhamento de dados.

Em entrevista à coluna, ela conta como os principais atores da saúde mundial mergulharam sobre a questão do impacto que a pandemia poderá ter nas comunidades mais vulneráveis e em situações de pobreza. Também deixou claro que o distanciamento social faz parte do plano.

Não é nem uma opinião. Muitos estudos vêm demonstrando que medidas de distanciamento ou mesmo de quarentena têm sido importantes para diminuir a velocidade de transmissão da pandemia.

Ela acredita que tais medidas não podem ser realizadas a partir de um protocolo único e precisam ser adaptadas às realidades locais. Nísia insiste que, principalmente nos casos de situações mais dramáticas na Europa e agora nos Estados Unidos, tais políticas revelaram ser "muito importantes".

"A ideia de distância física, isolamento e medida de contenção de aglomeração, têm se mostrado absolutamente necessárias e com impacto positivo", disse.

Combate à covid-19 no Brasil: combinação de estratégias

"No Brasil, ainda não temos condições de avaliar. Mas já começam a aparecer alguns indicadores de que também tomar medidas de forma antecipada, como foi feito, tem um impacto positivo", afirmou a presidente da Fiocruz.

Em sua avaliação, a realidade é que não haverá uma ação que, sozinha, resolva a crise. "O que acho que é importante é pensar em um conjunto de medidas", disse, lembrando os esforços também para que se amplie o número de pessoas testadas.

Para Nísia, existem ainda muitas incógnitas sobre o coronavírus no Brasil.

Temos que observar como é que o vírus vai se comportar em nosso país. Ainda há muitas perguntas sem respostas.

Isolamento na favela

Durante o encontro, uma de suas mensagens e que teve amplo eco na OMS foi a necessidade de que estratégias para lidar com a pandemia considerem as realidades diferentes dos países e das pessoas mais vulneráveis nas grandes cidades do mundo.

No Brasil, isso já é um desafio real. "É um país com profundas desigualdades sociais. Portanto, estratégias específicas para populações em situações vulneráveis são muito importantes. No caso do Brasil, nós temos essa combinação de situações de pobreza, ausência de saneamento, ausência de água", disse.

De acordo com Nísia, esse debate fez parte das considerações durante a reunião da OMS. "Como vai fazer isolamento social de casos suspeitos em casas onde moram sete pessoas num único cômodo?" questionou. "É um desafio. Tem que contar com políticas de Estado e ações solidárias. Isso tem sido trabalhado no Brasil e terá de ser acelerado", afirmou.

Para ela, se a doença chegou ao Brasil a partir de viagens internacionais, "agora é que é o risco maior".

Errata: este conteúdo foi atualizado
Na versão anterior, o título da reportagem errava ao mencionar a iniciativa privada entre os apontados pela presidente da Fiocruz como apoiadora em potencial das comunidades carentes. A brasileira se referia à comunidade internacional. O título foi alterado.