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Jamil Chade

ONU denuncia governos e líderes por usar pandemia para silenciar imprensa

Logo da ONU em sede de Nova York - Lucas Jackson
Logo da ONU em sede de Nova York Imagem: Lucas Jackson

Colunista do UOL

24/04/2020 06h01

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A ONU denuncia líderes e governos por ataques contra jornalistas, usando a pandemia como instrumento para ampliar a repressão contra a imprensa. Presidentes como Donald Trump e governos como o do México, China, Egito, Arábia Saudita, Tanzânia, Turquia, Guatemala, Bangladesh, Filipinas, Jordânia e outros foram citados como exemplos de ataques contra meios de comunicação, com prisões, desaparecimentos, fechamento de escritórios e ameaças.

Nesta sexta-feira, a Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, afirmou estar alarmada com as "medidas restritivas impostas por vários Estados contra os meios de comunicação social independentes, bem como com a detenção e intimidação de jornalistas". De acordo com a ONU, a livre circulação de informação é vital na luta contra a COVID-19.

"Alguns Estados utilizaram o surto do novo coronavírus como pretexto para restringir a informação e abafar as críticas", afirmou Bachelet. "Uma comunicação livre é sempre essencial, mas nunca dependemos tanto dela como durante esta pandemia, quando tantas pessoas estão isoladas e temem pela sua saúde e meios de subsistência", disse. "Um jornalismo com credibilidade e preciso é uma linha de vida para todos nós", afirmou.

A chefe da ONU para os direitos humanos observou também que alguns dirigentes políticos passaram a atacar jornalistas verbalmente, criando um ambiente hostil à sua segurança e à sua capacidade de fazer o seu trabalho. Na Turquia, o governo chegou a dizer que precisa lutar tanto contra o vírus como contra a imprensa. Na China, um jornalista desapareceu há 75 dias.

No Brasil, o governo tem atacado meios de comunicação que questionem a gestão da crise por parte do Palácio do Planalto.

De acordo com a entidade, debates sobre quarentenas e caminhos, o questionamento de ações de governos são legítimos e líderes precisam aceitar a existência do debate e do questionamento.

"Segundo o Instituto Internacional da Imprensa, registraram-se mais de 130 alegadas violações dos meios de comunicação social desde o início do surto, incluindo mais de 50 casos de restrições no acesso à informação, censura e regulamentação excessiva da desinformação", alertou a ONU.

"O Instituto noticiou que cerca de 40 jornalistas foram detidos ou acusados na Ásia-Pacífico, nas Américas, na Europa, no Médio Oriente e em África por denúncias críticas à resposta do Estado à pandemia ou simplesmente por questionarem a exatidão do número oficial de casos e mortes relacionados com a COVID-19", declarou.

"O número real de violações e detenções por parte dos meios de comunicação social é provavelmente muito superior", apontou a ONU.

Desaparecimento

De acordo com Bachelet, houve também notícias de desaparecimento de jornalistas após a publicação de uma cobertura crítica da resposta à COVID-19. Várias agências de notícia foram fechadas pelas autoridades por causa das suas reportagens.

"Não é o momento de culpar o mensageiro", disse a ex-presidente do Chile.

"Em vez de ameaçar os jornalistas ou abafar as críticas, os Estados devem encorajar um debate saudável sobre a pandemia e as suas consequências. As pessoas têm o direito de participar na tomada de decisões que afetam as suas vidas, e um meio de comunicação social independente é um meio vital para isso", afirmou Bachelet.

"Ser aberto e transparente e envolver as pessoas afetadas no processo de tomada de decisões cria confiança pública e ajuda a garantir que as pessoas participem em medidas destinadas a proteger a sua própria saúde e a da população em geral e aumenta a responsabilização", disse.

Bachelet apoiou ainda as preocupações manifestadas pelo secretário-geral da ONU, Antônio Guterres, sobre a "perigosa epidemia de desinformação" em torno da pandemia, que gerou confusão e mais doenças.

"Os jornalistas estão desempenhando um papel indispensável na nossa resposta a esta pandemia, mas ao contrário das graves ameaças que se colocam a outros trabalhadores essenciais, as ameaças que os trabalhadores dos meios de comunicação social enfrentam são totalmente evitáveis. Proteger os jornalistas de assédio, ameaças, detenção ou censura ajuda a manter-nos a todos em segurança", completou Bachelet.